Anuncie connosco
Pub
Entrevistas

Teotónio Gonçalves e o Verde Minho

«TRANSFORMAR O ENCONTRO DE CULTURAS NUM GRANDE FESTIVAL DE FOLCLORE»

7 de maio de 2016
Partilhar

Quando surgiu o grupo “Verde Minho” e com que intuito?

O Grupo folclórico Verde Minho surgiu em 1994, com a intenção de agrupar os minhotos radica¬dos na região de Lisboa e, simul-taneamente, promover o folclore da nossa região e transmitir aos mais jovens que, aqui nasceram, o apego às raízes culturais dos seus pais, assegurando a passagem de um testemunho cultural que tem a ver com a nossa identidade.

Como podemos caracterizar o grupo?

O Grupo Verde Minho representa em Lisboa os usos e costumes das gentes do Minho e assume-se como uma “embaixada” desta região no concelho de Loures, onde se encontra sediado. É nesse sentido que tem vindo há mais de duas décadas a organi¬zar o Encontro de Culturas, cujo formato se encontra em fase de renovação, assumindo-se como o maior festival de folclore da região, procurando constituir uma jornada de confraternização de diferentes povos e culturas, numa localida¬de marcadamente cosmopolita: o FolkLoures! Apesar de se tratar de um evento regional, possui a marca das gentes do Minho na sua organização, estreitando os laços que a unem à terra que os acolheu.

Qual a forma que tem de subsistir?

O Verde Minho subsiste através das quotas dos seus associados, da generosidade dos seus patrocinadores, do apoio que o Município de Loures e a Junta de Freguesia de Loures nunca regatearam e ainda das mais diversas parcerias estabelecidas com vista à sua participação em eventos cul¬turais. Não obstante, apesar da necessidade de se financiar para manter a sua actividade, o Grupo Verde Minho não deixa de parti¬cipar generosamente em eventos de beneficência e solidariedade, o que o torna particularmente bem aceite e reconhecido entre a comunidade, o que também nos é muito grato registar.

Consideram haver lacunas no apoio às associações que representem a tradição do Minho?

Pelo que nos diz respeito, e no que ao poder local diz respeito, não possuímos razões de queixa. As maiores dificuldades registam-se a nível de apoio na divulgação junto dos órgãos de comunicação social, mormente por parte daque¬les que, sendo financiados com o dinheiro dos contribuintes, deve¬riam prestar o serviço público que lhes é devido. E, não conceden¬do espaço na sua programação à divulgação das nossas raízes culturais e, a nível de informação, às iniciativas desenvolvidas pelos grupos e entidades que promo¬vem as tradições do nosso povo, dificilmente se poderá aceitar que estejam realmente a prestar um serviço público!

Quantos elementos compõem o grupo?

É actualmente constituído por 45 componentes, distribuídos pela tocata, os cantadores e os baila¬dores. Enquanto os bailadores são escolhidos normalmente entre os mais jovens e ágeis, os cantado¬res possuem a particularidade de ainda conservarem a nossa pro¬núncia, um aspecto que também devemos considerar e faz todo o sentido.

Entre que idades?

A componente etária no Grupo Verde Minho varia entre os 9 e os 74 anos de idade. Trata-se de um espaço inter-geracio¬nal único, que contribui para a formação da personalidade dos mais jovens, promovendo o res¬peito e a amizade pelos mais velhos, aproveitando a sabedoria que a idade lhes proporcionou e, desse modo, tornando-os bons cidadãos. Por outro lado, os mais velhos beneficiam desse contacto permanente com os mais jovens, conservando-lhes o espírito e a juventude apesar da idade. São poucas as formas de participa¬ção na sociedade que, à seme¬lhança do que sucede com os ranchos folclóricos, contribuem para um relacionamento saudá¬vel entre pessoas das mais varia¬das gerações, conservando os mais jovens afastados dos vícios e malefícios que a sociedade actualmente vem oferecendo…

O que significa recriar as tradições do Minho?

O Grupo Folclórico Verde Minho não pretende recriar as tradições do Minho no sentido em que o mesmo possa ser entendido como renovação. O Verde Minho procura conservar e dar a conhe¬cer aquilo que constitui o patrimó¬nio cultural do nosso povo, a um tempo anterior à padroni¬zação dos costumes e mentali¬dades que nos foram impostas por uma sociedade industriali¬zada ou seja, os finais do séc. XIX e começos do séc. XX. Por falta de documentação suficiente, jamais poderemos recuar mais no tempo, como seria desejá¬vel. A maior parte das pesquisas no domínio da etnografia foram feitas em meados do século pas¬sado, graças ao aparecimento da fita magnética e do filme de 8 mm, proporcionando aos investi-gadores trabalharem directamen¬te no terreno, junto das popula-ções, nomeadamente na recolha musical.

Porém, quando falamos em recriação, referimo-nos à recons¬tituição de tradições, feitas em moldes que não são absoluta¬mente reais, na medida em que apresentam as limitações ineren¬tes de algo produzido fora do contexto e do tempo. É o que sucede com a realização de uma desfolhada do milho que pro¬movemos anualmente e que, na realidade, constitui apenas uma simulação. Aliás, de outra manei¬ra não podia ser!

Que sentem quando actuam nas nossas comunidades de emigrantes?

O contacto com os nossos emigrantes é sentido, como se de um reencontro familiar se tratasse. Um abraço entre amigos, onde o tempo e a distância fizeram crescer a saudade. E sentimo-lo porque, de certa forma, também somos “emigrantes” dentro da nossa própria Pátria: tal como eles, tivemos de deixar as nossas famílias e amigos para procurar¬mos melhores condições de vida em terras distantes, com gentes e costumes diferentes dos nossos, embora portugueses como nós. E foi precisamente esse distan¬ciamento que nos acendeu na alma a chama imensa do amor que sentimos pela nossa terra e que nos fez criar o Grupo Verde Minho!

Quais são os projectos futuros do grupo?

O projecto mais imediato do Grupo Verde Minho, com o qual dependem vários objeti¬vos, consiste na transformação do “Encontro de Culturas” que já vai na sua 23ª edição, num grande festival de folclore com projecção nacional e internacio¬nal. Mas dentro de um conceito diferente àquele que está sub¬jacente à esmagadora maioria dos festivais de folclore, os quais se reduzem à exibição pura e simples de danças e cantares, fazendo desfilar em palco uns tantos grupos cuja representação a tal se limita. Trata-se de con-ceber um novo figurino que, para além das nossas tradições, terá ainda em linha de conta as nos¬sas influências culturais junto de outros povos e comunidades ao longo de vários séculos, desde os Descobrimentos Portugueses, com gentes com as quais convi¬vemos quotidianamente nas nos¬sas cidades.

Finalmente, quero em nome do Grupo Folclórico Verde Minho, agradecer ao Notícias de Loures a oportunidade que nos deram para apresentar o nosso trabalho e a representação que fazemos do Minho no concelho de Loures e na região de Lisboa em geral. Muito obrigado!

 

Última edição

Opinião