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João Alexandre – Músico e Autor
João Alexandre
Músico e Autor

Ninho de Cucos

Harp - Albion

7 de janeiro de 2024
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Tim Smith, o músico por detrás do projeto Harp é natural do Texas, o que em termos musicais seria inimaginável ao escutarmos o seu primeiro longa duração “Albion”.
Quando Tim Smith deixou os Midlake em 2012, as expectativas eram grandes, especialmente depois da sua antiga banda ter lançado, um ano depois, “Antiphon” um disco tornado clássico.
O álbum editado no final de 2023 foi gravado na sua nova casa em Durham, Carolina do Norte. Uma longa jornada, que incluiu o divórcio e o regresso a casa dos pais antes de conhecer Kathi Zung e se mudar para o Leste.
Contando com a ajuda do ex-companheiro dos Midlake, Paul Alexander no baixo, o guitarrista dos Hollow Hand, Max Kinghorn-Mills e a atual mulher Kathi Zung nas programações de bateria, Tim Smith criou um álbum que lembra “Trials of Van Occupanther” dos Midlake.
“Albion” é um trabalho que nos desperta os sentidos, mudando lentamente de formas e cores à medida que avançamos na sua descoberta. Soa a antigo e a novo ao mesmo tempo. É um ponto de partido e um recomeço.
O título do álbum por si só já deveria dizer que Smith é um anglófilo devoto e de facto “Albion” parece nascido na Grã-Bretanha em algum momento dos últimos séculos no melhor sentido, uma vez que a sua música é intemporal, pese as guitarras elétricas e as cordas sintetizadas mas recortada por flautas e disposta num campo de imagens em constante mutação.
Canções de esperança e desgosto, cada uma com uma melodia que revelam o coração de Tim Smith.
A escrita do autor é construída por vezes num estilo de poema folk (“Clever and bright is she / And worthy of more than I”) e as referências a William Blake pontuam o disco amiúde.
O esforço criativo de Smith e as mudanças vividas estão bem presentes em “I Am the Seed”. O tempo curou as velhas feridas que surgiram com o passar dos anos e apesar de alguns sinais de incerteza como em “Daughters of Albion”, o músico demonstra esperança na faixa final, “Herstmonceux”. No meio de um coro de vozes quase medieval, uma bela melodia emerge das guitarras vibrantes e dos sintetizadores analógicos. “Quietly the sorrow flees from me/ Bright as day the soul no longer grieves/ I am the seed, I wait, I wait for thee.”
Este é um homem que parece estar agora de bem com a vida.
Nestes 10 anos, Tim Smith passou, segundo o próprio, três deles a escutar o álbum mais depressivo dos Cure, “Faith” mas não só, Joy Division, Tears For Fears, Cocteau Twins (via Bella Union, a editora), The Church, Mazzy Star, Father John Misty ou até os Fairport Convention da era de Ian Matthews, expoente folk rock britânico dos anos 60, são referencias admitidas e perceptiveis no trabalho estreia dos Harp. Um cruzamento raro do post punk com o folk num ambiente gótico. Escutemos o instrumental de abertura “The Pleasant Grey” ou o fantástico “Silver Wings” para o entender.
Apesar da longa espera, “Albion” recompensa-nos devidamente e é um (re)começo auspicioso para os Harp de Tim Smith que o encontra ao lado da mulher, Kathi Zung.
Juntos criaram novas ondas de esperança capazes de ver um caminho de luz através dos dias sombrios que temos pela frente.
“Albion” é o triunfo de um novo começo, de uma segunda oportunidade.
Bem-vindos a 2024!

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