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João Alexandre – Músico e Autor
João Alexandre
Músico e Autor

Ninho de Cucos

Festivais de Verão

7 de março de 2015
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Primeiras impressões

A cerca de 2 meses do início da época dos grandes festivais de música em Portugal, já é possível debruçarmo-nos sobre alguns deles, nomeadamente sobre os respectivos cartazes que são, no fundo, o que mais nos interessa aqui. Na classe dos festivais consagra- dos, de grande dimensão e alcance internacional o Meo Sudoeste na Zambujeira, que decorre entre 5 e 9 de Agosto, é cada vez mais um Festival Juvenil.

Direccionado para o público estudantil do ensino secundário e primeiros anos do universitário, muitas vezes em grandes grupos que acampam e fazem praia. Ao final da tarde aglomeram-se no recinto do festival para espreitar este ou aquele artista, esta ou aquela tendência que no Sudoeste se vai confinando essencialmente à dança sob várias formas. Para tal a organização aposta em nomes como Hardwell, Calvin Harris e Steve Aoki. O Festival Marés Vivas em Gaia a 16, 17 e 18 de Julho aposta em nomes consagrados do pop rock internacional e nacional.

John Legend, Lenny Kravitz e Jamie Cullum partilham o palco com Buraka Som Sistema e Ana Moura, entre outros, num cartaz ainda não fechado e com um passe válido para os 3 dias no valor de 60 euros, abaixo dos restantes festivais. O NOS Alive em Lisboa, pro- vavelmente o maior dos maiores festivais, aquele que mais público arrasta, maior orçamento dispõe e mais causas envolve ao seu redor apresenta no momento (pois ainda não está encerrado) um cartaz não consensual, mas ainda assim com nomes capazes de, por si só, garantir o sucesso de mais uma edição.

Muse, Ben Harper e Mumford & Sons têm aquela aura de cabeça de cartaz triunfante que os programadores sempre almejam. Nomes como Alt-J, Mogwai, The Wombats, Future Islands ou a reunião dos Jesus and The Mary Chain acres- centam interesse ao festival, mas serão para breve anunciados nomes que comporão o cartaz, mantendo-o num patamar eleva- do face as expectativas criadas por um público que é oriundo de toda a Europa e que não deixará de preencher o Passeio Marítimo de Algés entre os dias 9 e 11 de Julho. Uma semana depois do NOS Alive (17 e 18 de Julho) regressa ao local de origem o Super Bock Super Rock, depois de muitos anos sedeado no Meco.

Uma opção discutível, agora sem praia mas mais à mão das massas que desta feita no Parque das Nações, em Lisboa, têm artistas confirmados e num leque vasto que pode ir de Sting aos Blur, de dEUS a Florence and the Machine, de Franz Ferdinand a Noel Gallagher. Noutras dimen- sões destacamos Perfume Genius, Bombay Bicycle Club, The Vaccines e The Drums com capacidade para conquistar mais alguns fãs por terras lusas. Entre 4 e 6 de Junho no Parque da Cidade no Porto decorre o NOS Primavera Sound, porven- tura o Festival urbano com o espaço mais bonito, melhor pen- sado e adaptado a eventos com tais características.

Para mais a programação mantém-se fiel a princípios que não são o do exclusivo crescimento e escravi- dão dos números. Os espanhóis adoram e os portugueses também. O cartaz de 2015, conhecido em cerimónia de pompa, inclui a veterana Patti Smith e o regresso dos Ride, banda inglesa de shoegaze/dream pop do final dos anos 80, mas acima de tudo é de equilíbrio estético que se trata neste festival sejam os artis- tas considerados mais ou menos novos, certezas ou promessas das vagas do indie pop rock das últimas décadas à actualidade.

Aos consagrados Interpol, Anthony and the Johnsons, Belle and Sebastian e Spiritualized por exemplo juntam-se apostas mais recentes como os Jungle, New Pornographers ou Marc de Marco entre outros, tudo num festival onde é muitas vezes possível assistir a concertos deitado na relva.

Um luxo e um esplendor dentro da cidade! Já Paredes de Coura, cronologicamente o mais tardio destes grandes festivais, decorrerá entre 19 e 22 Agosto e se esteticamente pode apresentar algumas semelhanças com o NOS Primavera, não deixa de ter uma personalidade própria bem vincada desde logo por ser o mais rural dos que aqui consideramos, pela excelência do anfiteatro natural que é o palco principal do evento delimitado pelo Rio Coura e por se manter há tantos anos imune a crises e fluxos de pessoas, eventualmente atraídas por outras paragens.

O cartaz deste ano, longe de estar fechado apresenta para já três apetecíveis nomes, os super reconhecidos e premia- dos em 2014, War On Drugs, a coqueluche retro britânica The Temples e os Tame Impala, que ao vivo demonstraram em anos anteriores em terras lusas uma grande qualidade. Em todo o País esta é uma época onde proliferam eventos musi- cais, alguns mais generalistas outros mais segmentados ou apostados em conceitos locais ou de diferenciação, com objectivos de fixação a prazo. Nem todos sobrevivem, alguns não passam mesmo de experiências.

Entre sucessos e fracassos o saldo parece ser positivo. Permitam-nos destacar um Festival de dimensão local, o Festival Bons Sons que se iniciou com a ideia de se poder realizar de dois em dois anos e que entretanto se afirmou como iniciativa anual, sustentável, com o voluntariado no centro da sua raiz identitária e no qual se valoriza a experiência de “viver a aldeia”. A Aldeia é Cem Soldos, perto de Tomar e musicalmente pretende apresen- tar de forma ampla as tendências da música portuguesa.

É uma excelente ideia e desejamos que a independência do festival se mantenha no futuro de forma economicamente viável. Decorre entre 13 e 16 de Agosto e é uma alternativa aos festivais mais comerciais e de maiores dimensões que aqui apresentamos.

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