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Entrevistas

Mário Cordeiro, médico pediatra

O contacto salutar das crianças com os animais

6 de junho de 2018
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É do conhecimento geral, que ter um animal de estimação faz bem à saúde física e mental de qualquer pessoa em qualquer idade, no entanto, no caso das crianças, traz um valor acrescentado ao seu desenvolvimento emocional e aquisição de competências.

O pediatra Mário Cordeiro acumula à sua vida profissional muitas outras funções, de entre elas, a autoria de “Mais de mil passeios – versos ao meu cão” e de vários bestsellers para pais e educadores, sendo um romancista, poeta e dramaturgo. Professor aposentado de pediatria e de saúde pública da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa é, entre outras coisas, presidente do Conselho de Administração da UNICEF Portugal. Mas não é tudo, defensor dos direitos das crianças e dos animais é, ainda, Assessor da Provedora dos Animais da Câmara Municipal de Lisboa, tarefa que ajuda a fomentar a ligação entre as crianças e os animais.

Mais de 12.500 animais no Concelho

De acordo com a informação da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), a 23 de maio deste ano, estavam ativos 813.315 registos de animais de companhia em Portugal, 12.641 dos quais, no concelho de Loures, sendo considerados ativos os que não têm averbado a data de morte do animal. Esta soma diz respeito, essencialmente, a cães, de todas as categorias, da companhia à assistência, pelo que o número de animais de companhia é garantidamente bem maior.

Não há registo do número de crianças que partilham a sua casa com animais, sabe-se, contudo, que estes são considerados, cada vez mais, um elemento da família.

Melhoria da saúde física e mental das crianças

Para o pediatra, “a relação entre as crianças e os cães é instintiva e natural, e um excelente fator protetor para a saúde mental e física dos mais novos e da família”.

Ter um cão é uma oportunidade de “retomar ritmos humanos, de nos divertirmos e de entendermos o que significam as palavras lealdade, reciprocidade, cumplicidade e amizade”, pelo que Mário Cordeiro não hesita em afirmar que “um lar com um cão ou um gato fomenta a empatia, as regras, a disciplina, o rigor, os afetos e o sentido de responsabilidade.”
“Está provado que as crianças que coabitam ou têm relações estreitas com animais, numa ótica de cooperação e de mimo, são menos capazes de ser violentas ou de fazer mal a seres humanos” salienta o médico.

Saber como acolher o animal

Antes de se decidir abrir as portas de casa a um animal é necessário avaliar se existe espaço, tempo, para dedicar a passeios, mimos e brincadeiras, bem como condições financeiras, já que manter um animal implica custos. Saber se há alergias, que eles crescem ou se há probabilidade de impedimento futuro, são também questões prévias à tomada de decisão.

É preciso, também, ter consciência de que se não conhecermos as características e necessidades da espécie a acolher, será impossível forçar uma relação verdadeiramente saudável e equilibrada, benéfica para eles e para nós.

Reunidas todas as condições e, havendo crianças em casa, é preciso que os pais as ensinem a aproximar-se devagar e a não os magoar pois, na realidade, eles não são peluches. O contacto, que deve ser supervisionado, pelo menos, no início deve vir acompanhado da demonstração de que os animais são capazes de sofrer e, até morder, se abusarmos.

Animais de abrigos nas escolas

É daqui que parte o médico, quando apela à introdução de animais nas escolas, designadamente cães, que ajudam as crianças a serem mais empáticas e solidárias, não só com animais mas, também, com pessoas. Faz com que os miúdos se interessem pelos animais, aprendam a cuidar e a assumir responsabilidades, ocupando a cabeça com coisas menos artificiais e mais “tácteis e olfativas” ou seja, menos ecrãs. Por outro lado, criar nas gerações futuras a perspetiva de que uma cidade, ou qualquer outro ecossistema, tem que integrar o ser humano e os restantes habitantes do planeta, deverá ser uma prioridade.

Crueldade com animais

A falta de empatia ou o desprezo que os adultos transmitem às crianças, os modelos e maus exemplos que observam nos mais velhos e, a falta de conhecimento sobre as necessidades e os direitos dos animais, facilita os maus tratos ou a crueldade com os outros seres vivos.

É bom que se tenha presente que a crueldade com animais é um prenúncio do mesmo tipo de atos com pessoas, que vão desde o bullying aos crimes. Não é de hoje que se sabe que as pessoas sádicas e até psicopatas começaram, quase todas, o seu percurso desviante desprezando e maltratando animais.

O direito das crianças

Serem atribuídos direitos aos animais não reduz os direitos das pessoas, pelo contrário, andam em paralelo, visando um mundo mais pacífico, tolerante, aberto, completo e global.

“Para lá dos direitos dos animais já consagrados na legislação temos de começar a reconhecer, cada vez mais, o direito das crianças a ter o prazer de desfrutar, de conhecer e de se relacionar com um animal de companhia, designadamente um cão”, refere o pediatra, acrescentando que “humanos e cães são complementares e crianças e cães, então, muito similares. São companheiros para a vida e devolvem-nos a nossa condição humana!”

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