Fora do Carreiro
O sucesso e a Cidade
7 de março de 2018
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Também poderia ter titulado esta crónica como o Insucesso e a Cidade, mas a perspectiva que prefiro seguir é de feição positiva, por forma de estar na vida, mas também porque me atrevo a falar, (em tão reduzido espaço para a imensidão da tarefa) da minha terra, da minha Cidade, de Sacavém.
Nem a circunstância de a força política dominante, sendo dominante há já 20 anos (venceu as eleições autárquicas de 14 de Dezembro de 1997 e daí em diante) me impele à resignação de focar a estagnação e, pode dizer-se, o atrofiamento cultural, económico e vivencial da Cidade.
Claro que faria (e faz) sentido proceder a um bom diagnóstico do actual estado da comunidade e do espaço territorial, com um carácter descomprometido, rigoroso, atento e com os instrumentos analíticos apropriados. A leitura e interpretação da Cidade é crucial para definir novas ambições, novos propósitos e um rumo. Mas é patente que uma mera abordagem empírica nos impõe, imediatamente, uma espessa nuvem de inquietações imediatas, prementes, acutilantes.
Sacavém, no meu entender, precisa com toda a urgência de encontrar as metodologias de reflexão e acção em cinco pilares decisivos: a) a qualificação urbana; b) a cultura; c) o território; d) a demografia; e) o rumo prospectivo. Desencadear o debate entre os sacavenenses e destes com as entidades públicas com papéis a desempenhar na Cidade, é um passo elementar de bom-senso, pertinência, necessidade.
Os orgãos autárquicos têm uma missão incontornável e decisiva na dinamização de um tal processo, do qual as forças políticas, responsavelmente, não se podem alhear e bem pelo contrário, deveriam assumir como centro das suas preocupações e propostas. Também os cidadãos, quer se sintam mais ou menos representados por aquelas instituições, têm um lugar insubstituivel na tarefa, comum a todos que vivem e trabalham na Cidade, de a melhorar e projectar para o futuro. Informar-se, opinar, participar e envolver-se não é uma opção, mas antes uma obrigação.
Inquestionavelmente dar tais passos, estimular a participação, a opinião informada, admitir o debate franco, aberto e leal, requer coragem, física e intelectual, porque não se ignora o contexto e as pressões a que os indivíduos estão sujeitos para que se contenham, para que usem de reserva mental para com os demais, num mecanismo de autoprotecção individualista, para que recorram ao calculismo e pragmatismo como instrumento de sobrevivência num registo de vida quantitivista. Contudo, romper com esta “cultura” disseminada, criar laços e interacções entre vizinhos e no seio da comunidade, são metas imprescíndiveis.
Ninguém pode ficar refém de restritos grupos de pertença, seja qual for a sua natureza, menos ainda se virtuais, porque uma Cidade a sério faz-se com diversidade e cidadania activa e o sucesso da Cidade, é o sucesso de todos, colectivo e sustentado.