Fora do Carreiro
Era assim, é assim e será assim
10 de abril de 2018
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Tantos anos após a revolução de 25 de Abril, seria de esperar que em Portugal, os princípios de livre associação e participação dos indivíduos na esfera pública fossem estimulados, incentivados e apoiados.
Ao contrário têm sido instiladas no espaço público, as mais diversas teses que visam desmobilizar a aproximação das pessoas ao associativismo, que promovem a sua atomização para que cada um individualmente “faça pela vida”, para dividir e até fazer rivalizar as associações, para que as pessoas se associem o menos possível, seja a que pretexto for. Diabolizam-se os sindicatos, anatemiza-se o associativismo popular, causticam-se os partidos políticos.
Para esse propósito, profundamente ideológico, é feito um apelo continuado aos mais básicos sentimentos e é instigada uma difusão simplória e populista. É recorrente numa certa “voz popular”, ampliada nas redes sociais, de que aqueles que dirigem as associações ou se lhes associam, têm por objectivo obter vantagens pessoais ou, então, que estão a mando de uma qualquer estratégia partidária.
Os políticos com responsabilidades nacionais não se atrevem (ainda) a dizê-lo, mas não é invulgar encontrar representantes locais de forças políticas não apenas a dizê-lo, mas a agirem em conformidade com esta visão. Por um lado, sempre que podem refutam, reduzem e eliminam apoios ao movimento associativo (é ver o que se passou no Concelho de Loures de 2001 a 2013) ou, hipocritamente, alegam que só com uma “gestão profissional” ou do tipo “empresarial” as associações fazem sentido.
Hoje, se por um lado, temos um vasto conjunto de novas associações, pautadas por interesses e objectivos mais focados, não é menos verdade que todas, novas e antigas, se encontram cercadas por um manto diáfono de preconceito.
Recorde-se que em Portugal a tradição do associativismo – Bombeiros, Bandas Filarmónicas, Clubes Desportivos, Cooperativas de Consumo, etc – foram a resposta colectiva das populações aos problemas da época, de resistência à repressão, de enfrentar o analfabetismo, de encontrar mecanismos de sobrevivência e de vivências comunitárias. Nessas instituições aprendia-se a ética, a honra, a honestidade, a partilha, a organização e cada um desenvolvia competências pessoais. Ou seja, emergiam e repartiam-se vantagens particulares e comuns. Era assim, é assim e, não se duvida, será assim. Sempre que os indíviduos se juntam, o mundo pula e avança…
Importa então que todos e cada um se furtem a manipulações divisionistas e ponham ao seu próprio serviço a inteligência operativa de que dispõem que promova a interacção com os vizinhos, os amigos, os colegas de trabalho e com quem partilha esferas de interesses idênticos. Um passo básico, elementar, será associarmo-nos à Associação de Bombeiros Voluntários da nossa zona de residência. O outro é uma nova disponibilidade para participar e partilhar.
Uma nota fora de horas, fora de tom, mas sobretudo, de revolta, pela perda inesperada, inexplicável, dolorosa do Pedro Santos Pereira. Nenhuma palavra define bem o que todos sentimos. Tento angústia, tento tristeza, tento dor, tento fúria. Nenhuma serve, porra!