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Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

500 anos merecem-no?

8 de janeiro de 2018
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Se alguém me disser que não fui chamado para a conversa e, porque é bem provável, faço, desde já, o meu acto de contrição e confirmo que ninguém me chamou para a conversa e ainda que é mais do que duvidoso que tenha legitimidade para publicamente fazer incursão por territórios alheios. Acredito, por outro lado, que haja quem possa perdoar-me a ousadia, concedendo-me o privilégio de ter uma ligação afectiva com Bucelas e as suas gentes, que respeito e estimo. Seja como for, arcarei com as consequências – tem sido sempre assim – pelo atrevimento de dizer o que penso. E o que penso é o que digo a seguir.

Bucelas reúne condições intrínsecas excepcionais para ser uma terra extraordinária no Concelho de Loures e na Área Metropolitana de Lisboa. As suas marcas (ainda) distintivas de história, património, recursos, pessoas, permitem imaginar como seria possível, com os adequados investimentos e acção política, conferir-lhe um papel de transcendente importância na região. A resposta aos apetites imobiliários e aos desejos urbanísticos dos próprios bucelenses não será, certamente, bloquear simplesmente esse modelo anacrónico de desenvolvimento, mas mostrar que são possíveis e desejáveis outros modelos, sustentáveis, dinâmicos e satisfatórios, respeitadores da natureza da freguesia, da sua longa história, das suas potencialidades e das suas diversidades e, evidentemente, um espaço de oportunidades para os naturais e naturalizados.

Um Plano Estratégico para Bucelas não é coisa transcendente, nem para académicos. Pode e deve ser a concepção de um modelo de desenvolvimento, em que os bucelenses participem activamente, apoiem e impulsionem. Onde a vinha e o vinho, a tradição e capacidade agrícola, a Festa do Vinho e das Vindimas, o Museu, os acessos e a circulação viária, a educação e a cultura, o património, a saúde, a floresta, o desporto, a segurança, a protecção civil, a economia, a restauração, o artesanato, a rede hidrográfica, o associativismo e outros aspectos da vida local sejam equacionados, debatidos, priorizados e accionados por decisões dos agentes políticos e da comunidade, por regulamentos e incentivos, por dinamismo e empenho.

Desconfio que este é o tempo próprio para desencadear um tal processo político e de cidadania, que não se deve atrasar mais, sob pena de se pôr em risco a oportunidade de fazer algo completamente diferente e adoptar uma via de progresso sustentável que, para ser confiável, não obtém imediatamente todos os resultados, mas obtém alguns e demonstra a sua viabilidade e interesse.

O avanço de um tal projecto, não tem de depender de investimentos milionários, que não existem. A própria metodologia, num quadro de sustentabilidade, pode adoptar a criatividade e a participação e envolvimento como motor do processo. Com o rumo definido, a dinâmica e a economia local ajudarão a mobilizar recursos nacionais e eventualmente comunitários. A caminho dos 500 anos, impõe-se fazê-lo. Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico.

Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico.

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