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Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

19 a marcar passo e os oportunismos

5 de julho de 2020
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Francamente não me passava pela cabeça que nesta altura continuaria a escrever sobre a problemática da pandemia sanitária. A expectativa era a de que o assunto teria de continuar a ser acompanhado pelas autoridades e especialistas e vigiado pelos cidadãos, que com a sua conduta, civilidade e cuidado, reduziriam o problema à sua expressão mínima.

Sempre me foi evidente, que sem uma vacina ou um medicamento de cura, os surtos se manteriam, ora aqui, ora ali, mas com a situação geral sob controlo. Quer parecer-me que não estamos longe disso. Irrompem alguns surtos – na verdade, uma parte perfeitamente evitáveis – mas a situação geral é de controlo e acerto nas medidas, embora algumas tardias.

No caso das 19 freguesias que mantêm o estado de calamidade – podiam ser 13 ou 27, pouco importa – temos um exemplo de que se chegou tarde com as medidas adequadas.

Tinha-se ouvido já, e bastante, o Presidente da Câmara Municipal de Loures advertir para as questões de fundo que estavam a promover um recrudescimento do número de infectados na região:

As condições de habitação | As condições de transporte | As condições de trabalho

Aos poucos os especialistas foram-lhe dando publicamente razão e, finalmente, o governo reconheceu e aceitou agir nesses planos e começar a tomar as medidas certas.

Do meu ponto de vista, as medidas certas não são as acções pró-repressivas que entusiasmam os órgãos de comunicação (lamentavelmente até a televisão pública) e deleitam os reféns do facebook e da opinião desinformada, que reclamam que a culpa é dos outros e eles são os impolutos exemplares de cidadãos crentes, obedientes e tementes.

As medidas certas são aquelas que vão ao encontro das necessidades de habitação, transportes e trabalho dignos. Aquelas que dão resposta e evitam que as pessoas tenham de ir trabalhar doentes ou não, porque não têm outra opção. Ou que fiquem doentes porque os transportes públicos contrariam todas as recomendações sanitárias.

Ou, ainda, porque no seu local de trabalho foram olimpicamente ignoradas as recomendações das autoridades de saúde.

Ainda se ouviram algumas vozes equacionar a possibilidade de virmos todos a ser melhores depois do período mais gravoso da pandemia, que pôs em evidência a fragilidade do ser humano e o perigo da sociedade que vimos construindo, profundamente injusta e contaminada.

Não me acreditei no “milagre” e tudo indica que após um primeiro momento de susto e perplexidade, todos voltámos aos antigos maus hábitos e aos defeitos de sempre, ao egoísmo e mau-linguísmo, que campeiam nas redes sociais nas suas vertentes anti-sociais.

Alguns partidos e representantes, sobretudo da direita portuguesa (mas ainda alguns que não se sabe quem são, de onde vêm, nem para onde vão), têm procurado incessantemente encontrar temas, problemas, dificuldades, números, que lhes permitam depois de fazer o mal, fazer a caramunha.

Ou seja, os principais fautores das desigualdades, da exploração desenfreada dos recursos naturais, da poluição e da economia de casino, são os que querem oportunisticamente aproveitar a pandemia para ganharem destaque e posições e reafirmarem a sua visão de antanho do mundo.

Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico.

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