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Ricardo Andrade – Comissário de Bordo
Ricardo Andrade
Comissário de Bordo

Opinião de Ricardo Andrade

Veremos...

7 de abril de 2024
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Aqui estamos chegados a Abril. Este ano marcado pelo início do que aparenta poder ser um novo ciclo para Portugal. Não um ciclo diferente apenas pela mudança de força partidária com responsabilidades de governação do nosso cantinho à beira-mar plantado mas, acima de tudo, uma mudança na forma de olhar para a política por parte de quem nos dirige.
A opinião expressa nas primeiras linhas deste texto poderia até ser muito marcada pelas minhas preferências partidárias. Poderia até ser o exprimir livre de uma militância partidária de anos. No entanto, caro leitor, acredite que não é esse o caso. Se o fôsse não viria mal ao mundo... só que, neste caso, é bem mais do que isso.
Durante os últimos anos assistimos, na minha humilde opinião, a um tipo de direcção politica marcada pelo calculismo estratégico e pela gestão da opinião pública com fins claramente eleitoralistas.
O tempo do dirigismo político orientado para o objectivo de ir conseguindo uma perpetuação no poder estará indelevelmente ligado ao protagonista principal nestes últimos anos. O tempo de quebrar com décadas de previsibilidade institucional foi uma evidência tão óbvia quanto a aparente normalização da política como um jogo de espelhos. O tempo de darmos valor não ao conteúdo mas à forma parecia não ter fim.
Tudo isto levou-nos, não nos enganemos, ao ponto onde nos encontramos hoje. Tudo isto trouxe-nos, não nos enganemos, ao cenário de fragmentação do sistema político resultante do resultado eleitoral de Março de 2024. Tudo isto fez, não nos enganemos, com que o que tomáramos como adquirido deixasse de o ser.
Sei bem que a tendência seria que nos focássemos no bom ou mau da estabilidade do status quo. Estou certo de que o natural seria que nos concentrássemos nos aspectos positivos ou negativos dos primeiros cinquenta anos da nossa jovem democracia. Estou seguro que o normal seria até que nos perdêssemos nas vantagens e desvantagens de abanar o sistema.
Mas acredito que temos que ir mais além e olhar, de um modo não sectário e divisionista, para o futuro. Confio que poderemos estar perante, não apenas, uma mudança do tabuleiro de xadrez mas perante uma alteração do jogo em si mesmo.
Analisamos hoje fenómenos recentes como o denominado populismo mas olvidamos que esse epíteto deveria igualmente ser atribuído a quem nos governou nos últimos oito anos. Elogiamos ou criticamos o cartão amarelo aparentemente dado a quem teve tudo na mão para fazer a diferença e esquecemo-nos de valorizar quem se quis deixar de simulações para ludibriar o árbitro. Perdemos horas a escutar supostos analistas tecerem considerações sobre cenários hipotéticos e não gastamos nem um minuto com o concreto e o real.
Sim! Assumo que prefiro o mais real e o menos efémero. Escolho quase sempre o mais estável ao eventual caos. Opto pelo mais responsável em detrimento de cantos de sereia.
Por isso sou daqueles que espera que a mudança que os portugueses sinalizaram seja não apenas um alerta à navegação do timoneiro mas, muito mais do que isso, um recentrar no essencial.
Sim! Para mim o tempo é o de acreditar que os políticos devem ser bem mais do que gestores de interesses localizados mas verdadeiros lutadores pelo bem comum.
Veremos agora se queremos continuar a ter uma política de reality shows e de programas de entretenimento ou se, ao invés, valorizamos enquanto sociedade a responsabilidade que teimamos em exigir aos outros mas não a nós mesmos.
Veremos...
Veremos...

 

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