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Opinião
Ricardo Andrade – Comissário de Bordo
Ricardo Andrade
Comissário de Bordo

A que temos e para onde queremos caminhar!?!?

Campanha eleitoral...

3 de março de 2024
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Chegámos a Março. Chegámos finalmente – ao final de cerca mais de 4 meses - ao momento em que podemos decidir os próximos anos do nosso futuro.
Depois de um dos maiores períodos de pré-campanha e campanha da nossa história democrática será agora a altura de deixar as urnas falarem mais alto do que muito do ruído – e não tem sido pouco – que tem falado mais alto do que qualquer voz dita como esclarecida.
Horas a fio de debates, minutos incontáveis de notícias e segundos intermináveis de polémicas marcaram não apenas o processo eleitoral no seu geral mas também uma campanha eleitoral diferente de todas as outras.
Para quem me lê ao longo dos anos esta não é certamente a primeira vez que “dá de caras” com algumas considerações acerca de processos eleitorais. Umas vezes na pele de candidato a eleições locais e nacionais e outras – como é o caso destas de agora – apenas na qualidade de eleitor, licenciado em ciência política e relações internacionais e espectador atento deste complexo fenómeno que são as campanhas eleitorais.
Talvez a maioria não tenha a noção real e esclarecida do diferente que foi esta campanha eleitoral em Portugal. Talvez a maioria não se tenha apercebido, de forma crítica e consciente, do impacto que poderá ter no futuro do debate político nacional em período de decisões de futuro.
Para quem acompanha com afinco e atenção as últimas décadas de eleições – e consequentemente de campanhas – este processo que agora finda deve ser particularmente relevante para fazer pensar não apenas em tudo o que aqui nos trouxe mas também nos vários caminhos que se podem colocar à nossa frente.
Nunca como antes tivemos tantos debates entre candidatos a eleições. Nunca como antes tivemos tanto ruído à volta de uma escolha democrática. Nunca como antes tivemos tantas informações e análises tão díspares a cada dia de campanha.
Mas mais do que constatar este factos seria bom pensarmos em vários aspectos das campanhas eleitorais colocando várias questões que podem marcar o futuro das campanhas eleitorais em Portugal como as conhecemos...
- Continuará a fazer sentido a existência de um dia de reflexão no dia seguinte ao final da campanha eleitoral - e antes do dia das eleições - quando o mesmo não existe antes do dia de voto antecipado? Continuará a fazer sentido um dia de “silêncio” nas notícias quando todos os dias cada um de nós tem formas de expressão com imensos meios de amplificação - nomeadamente as denominadas redes sociais – ao dispôr de cada um de nós sem que existam meios eficazes e justos de fiscalização de incumprimento das regras definidas para o dia de reflexão?
- Com os exemplos de debates a que acabámos de assistir nas últimas semanas será que chegámos a um modelo que permita ter estes momentos como verdadeiramente esclarecedores ou será que caminhamos para a normalização de momentos de “lutas na lama” que servem mais para animar “claques” do que para ajudar o cidadão comum a tomar decisões? Será que deveríamos ser verdadeiramente inovadores e apostar em modelos distintos dos escolhidos actualmente?
- Com o aumento da participação dos candidatos a eleições nos denominados “programas generalistas” será que estamos a contribuir para o debate que importa aquando do concretizar das nossas escolhas ou estaremos a contaminar o espaço público com aspectos laterais?
- Será que o surgimento “qual cogumelos” de supostas ferramentas como por exemplo os supostos testes para que analisemos em poucos minutos - e sem rigor técnico comprovado - qual o partido ou líder com que, supostamente, nos identificamos é um instrumento útil no nosso processo decisório ou apenas parte de um foguetório eleitoral?
- Será que nos dias de hoje – muito marcados pelos diversos meios de acesso à informação – temos uma divulgação massificada e adequada dos programas eleitorais e de candidatura e a verdadeira rentabilização deste essencial instrumento de decisão aquando de uma escolha devidamente esclarecida?
- Será que as campanhas eleitorais nos permitem conhecer todos – e não apenas cabeças de lista e figuras mediáticas - os candidatos e potenciais decisores políticos ou estão apenas formatadas para nos “vender” aqueles que interessam às estruturas políticas?
- Será que continua a fazer sentido o tradicional “tempo de antena” dos partidos políticos?
- Será que numa sociedade em que o contacto social se opera hoje em moldes bem distintos do que há décadas atrás continuam a fazer sentido os tradicionais “contactos com a população” desenvolvidos pelas várias candidaturas?
- Será que a cobertura mediática das várias candidaturas por parte dos órgãos de comunicação social deve ser regulada de forma a que o trabalho deste sector seja meramente informativo e não “doutrinador” e transmissor de ideologias ou agendas?
- Será que a duração do período de campanha eleitoral está ajustado aos nossos dias e à dimensão do nosso país e do universo eleitoral? Será que deveríamos definir verdadeiramente o chamado período de “pré-campanha” eleitoral e regulamenta-lo como fazemos com a campanha eleitoral propriamente dita?
- Será que fazem sentido o papel actual da Comissão Nacional de Eleições ( CNE ) e os poderes e meios ao seu dispôr para a regulação das campanhas eleitorais? Será que a CNE continua a cumprir a função para a qual foi criada?

Estas são então algumas das muitas questões acerca das campanhas eleitorais - e do muito que anda à volta delas - que julgo serem relevantes para que possamos efectivamente pensar e até mesmo começar a definir o seu futuro para com isso tornar mais eficaz aquele que deveria ser um verdadeiro instrumento de auxílio a uma das maiores ferramentas que temos de exprimir as nossas vontades... o voto!

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