Opinião de Ricardo Andrade
Verdadeiros desafios
6 de novembro de 2020
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Num ano normal estaríamos já, quer em Loures quer um pouco por todo o território nacional, em período de pré-campanha eleitoral com a temática das eleições autárquicas a marcar não apenas a agenda política mas também o dia a dia dos portugueses. Poderíamos, com naturalidade, encontrar nas ruas várias presenças de propaganda pré-eleitoral em centenas de autarquias com demarcações de espaço e cartas de intenções por parte de quem se iria propor a eleições locais. Conseguiríamos sentir já aquele “cheirinho” característico que tanto define o processo eleitoral de um sufrágio para estruturas locais.
Mas 2021 não será, por certo, um ano igual aos outros em diversos campos (como aliás não o foi 2020). 2021 será um ano atípico fortemente marcado por uma pandemia que veio alterar muito do que tomávamos por garantido. Será um ano em que continuaremos a ter que conviver com alterações brutais na nossa forma de viver enquanto seres individuais inseridos numa sociedade que viu serem atacadas muitas das suas fundações.
Pudemos, nos últimos dias, constatar na campanha eleitoral para as Eleições Regionais na Região Autónoma dos Açores que todo o modo de fazer campanha eleitoral se viu afetado por esta pandemia que continua a marcar todas as nossas vidas. Aliás, a maioria dos partidos concorrentes a essas eleições manifestaram a sua opinião de que a campanha eleitoral tinha sido totalmente diferente de todas as outras já vividas e houve até quem dissesse que teria que ser revista toda a forma de fazer campanha em face da situação que vivemos e do modo como o COVID 19 veio alterar a interação entre eleitos e eleitores. Se estou em perfeita sintonia com o impacto que a pandemia terá nesta temática das campanhas eleitorais, confesso que julgo que a mudança na forma de fazer campanhas políticas no nosso país não é uma necessidade que vem de hoje e que espero que encontremos, em Portugal, forma de nos adaptarmos mais rapidamente a esta necessidade de refundar as campanhas eleitorais do que aquela que tivemos a apercebermo-nos das brutais alterações que um vírus como este iria trazer para todo o mundo em geral e para Portugal em particular.
Olhemos para as campanhas eleitorais não apenas como um meio mas como um verdadeiro fim. Olhemos para estes momentos de troca de ideias e de projetos não apenas como marcos eleitorais. Olhemos para estas escolhas importantes que temos que tomar como as nossas e demos uma lição de civismo e de participação em sociedade.
Aliás, se há algo que temos aprendido é que, muito provavelmente, nada será jamais como era antes desta terrível provação a que temos sido sujeitos. Se há algo que temos que interiorizar é que o mundo mudou e que devemos ter a consciência de que não podemos ficar à espera de voltar a um planeta como antes o conhecíamos mesmo que isso fosse mais cómodo e mais conveniente.
Porquê? Porque esta mudança não tem que ser vista como algo negativo. Porque esta pandemia não deve ser vista como apenas uma “besta negra” mas sim como uma verdadeira oportunidade de nos tornarmos melhores e com os nossos valores e princípios cada vez mais como algo essencial e não meramente acessório.
Tenhamos então a capacidade de viver dia a dia com um espírito positivo mesmo no meio de um enorme teste ao nosso mundo. Saibamos então conviver com a enxurrada de notícias negativas e cenários da chegada do apocalipse. Consigamos então ser sempre mais e nunca menos. Esperemos então que tenhamos a capacidade de irmos mais além libertando-nos das amarras do social e politicamente correto. Sejamos então capazes de sermos parte de uma verdadeira mudança de mentalidades que se traduza em algo de bom para todos e não apenas em algo de conjuntural de que nos lembramos agora mas que depois, rapidamente, nos esquecemos quando ficar tudo bem.
Sim, esse é o nosso verdadeiro desafio quer nas campanhas eleitorais, quer nos nossos trabalhos, quer nas nossas famílias... sermos melhores e conseguirmos não apenas renovar nem inovar mas sim mudar verdadeiramente para algo que não apenas faça sentido mas que efetivamente signifique algo.