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Ricardo Andrade – Comissário de Bordo
Ricardo Andrade
Comissário de Bordo

Opinião Ricardo Andrade

A montanha pariu um rato!

3 de outubro de 2020
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Há não muito tempo atrás foi notícia, durante vários dias, a opção de um canal de televisão acabar com programas com comentadores que representam clubes de futebol. Nessa altura a decisão tomada era, supostamente, baseada num “combate à toxicidade” criada por esses programas. Por essa altura, o passo seguinte anunciado era acompanhar o desporto e o futebol de “uma outra forma, mais com jornalistas e comentadores”.

Confesso que fiquei então bastante agradado com a decisão tomada e que julguei que a mesma pudesse “criar escola” junto dos órgãos de comunicação social não apenas na temática do futebol mas também em outras esferas do comentário.

Há vários anos que defendo que um dos males transversais aos programas de comentário reside na forma como são escolhidos os participantes e também na forma como assistimos a autênticos debitares de agendas ideológicas por parte dos seus participantes. Há muito que penso que os programas de comentário não devem ser instrumentos de doutrinações ideológicas com o objetivo de condicionar a sociedade sejam eles na esfera do desporto quer em outras. Há imenso tempo que defendo que um programa de comentário deve ter mais de conteúdo opinativo geral e menos de agenda doutrinal.

Talvez o erro seja meu mas sinto-me mais atraído e até preenchido por um programa de comentário com participantes esclarecidos nas áreas que comentam do que com figuras públicas capazes de falar “sobre tudo e um par de botas” sem sustentação académica, profissional ou de conhecimento adquirido e reconhecido nas áreas específicas que comentam.

Obviamente que todos temos opiniões. Certamente que todas são válidas. Claramente que a liberdade de expressão nos permite falar sobre mil e uma coisas. Mas, para mim, e dando um exemplo, prefiro um painel de oradores de um programa desportivo de um Canal 11 do que de um qualquer programa de futebol de início de semana numa CMTV. Porquê ? Exatamente pelo facto de reconhecer mais propriedade aos seus participantes e aos percursos feitos nas áreas temáticas abordadas.

Se passar este exemplo para o fenómeno político, e dando exemplos, sinto maior grau de satisfação e até mesmo de enriquecimento pessoal na análise de fenómenos e eventos políticos se escutar um professor como Tiago Moreira de Sá, António Costa Pinto, Tiago Fernandes ou Marco Lisi (só para elencar alguns bons quadros na área da ciência politica) do que se escutar ex-presidentes deste ou daquele órgãos ou estruturas claramente politizadas e nem sempre com preparação académica adequada.

Infelizmente e voltando ao início destas linhas, a regra não parece ser o meu pensamento e é com pena que constato que aquilo que julguei ser o início de uma caminhada rumo a uma melhoria na qualidade, na forma e nos conteúdos de programas de comentário foi apenas “sol de pouca dura” e apenas numa área específica em que, por mais corajosa que fosse a decisão que referi no início deste texto, ela era mais fácil de ser tomada nos “programas da bola” do que em muitos outros e até mesmo em rubricas constantes de telejornais nacionais.

Infelizmente perdeu-se mais uma oportunidade de melhorar e de criar algo de diferente, algo com mais sumo puro e menos açúcar artificial.

Infelizmente a coragem supostamente propalada e apoiada de forma global pela opinião pública quanto à moralização dos programas de comentário mostra-nos agora que “a montanha pariu um rato” e que nem sempre“ uma andorinha faz a Primavera”.
Infelizmente, de cima veio, afinal, um caso e não uma verdadeira postura a seguir por todos os abaixo.

Mas quem sabe? Talvez um dia haja mesmo coragem de mudar o status quo e consigamos ter mais do que um caso isolado que fez muitas manchetes mas resultou em pouco.

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