Opinião de Ricardo Andrade
Temos o que merecemos!
7 de outubro de 2024
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Enquanto escrevo estas linhas o nosso país está ainda mergulhado em incerteza quanto ao Orçamento do Estado. Enquanto a caneta corre sobre o papel continuam milhões de portugueses a assistir a uma autêntica novela em torno do futuro do OE.
No meio de tudo isto e enquanto os intervenientes políticos se manifestam uns dias de uma forma e nos dias seguintes de outras, um país fica em suspenso com os cidadãos sem saberem que final irá ter esta história.
É obvio que o país sobreviverá e que o sol continuará a pôr-se e a nascer todos os dias. É evidente que os portugueses continuarão a viver as suas vidas como sempre.
Mas enquanto a terra gira assistimos todos a um cenário que, julgo eu, seria perfeitamente dispensável.
Gostamos sempre de olhar para outras democracias e de as ver como exemplos. Gostamos sempre de invejar resultados a que assistimos em outros países. Gostamos sempre de teorizar acerca do que seríamos se fôssemos “geridos” de outra forma pela nossa denominada “classe política”.
Mas a verdade é que, quando chega a altura de exigirmos que o status quo mude, nada fazemos para essa mudança e permanecemos impávidos e serenos enquanto se desenrolam novos capítulos de novelas a que dizemos não querer assistir.
Todos os dias assistimos a teorizações, de uns e de outros, sobre o que nós cidadãos pensamos ou achamos.
Opiniões e mais opiniões acerca de se queremos ou não queremos estabilidade política ( seja lá isso o que fôr! )... se queremos ou não queremos eleições... se achamos que o Governo deve governar livre com o mandato que lhe concedemos ou se devem existir consensos generalizados em matérias essenciais...
Sem que ninguém nos pergunte o que pensamos.
Preenchem-se horários de programas de opinião e abrem-se noticiários.
E... e... e... nada muda... tudo permanece igual.
Falamos em democracia participativa mas em momentos como este não dizemos o que pensamos. Falamos no poder dos eleitores mas não levantamos a voz nem saímos à rua para exigir respeito. Deixamos que dia após dia nos digam o que pensamos mas não o fazemos nós mesmos de viva voz e com estrondo.
Embarcamos em manifestações sobre temas que nos são impostos por estruturas políticas ou por organizações supostamente apolíticas ou apartidárias mas não nos organizamos de forma livre e pura em torno do que nos preocupa e impacta real e cabalmente com as nossas vidas.
Permanecemos à margem dos centros de decisão dando razão a quem repete vezes sem conta que os cidadãos estão afastados da politica e da democracia e por isso alguém tem que fazer esse papel de decidir por uma maioria silenciosa que não se faz escutar. Ao mesmo tempo que nos calamos perante o usurpar da nossa voz, criticamos recorrentemente aqueles de nós que se procuram fazer ouvir fora dos tradicionais centros de decisão e nem sequer nos debruçamos acerca de como mudar um sistema que no dia a dia dizemos não nos servir como deveria.
Fazemos críticas à porta fechada mas não gritamos a plenos pulmões.
E assim, desculpem-me a honestidade crua... demonstramos que não temos o que realmente queremos e temos sim o que merecemos perante a nossa atitude passiva de não mudarmos as nossas vidas.