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Ricardo Andrade – Comissário de Bordo
Ricardo Andrade
Comissário de Bordo

Opinião de Ricardo Andrade

O que merecemos?

5 de junho de 2023
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Vivemos num país à beira-mar plantado com gente boa e trabalhadora. Vivemos num rectângulo numa das pontas de um continente onde muitos querem chegar para mudar a sua vida. Vivemos com sol, mar e alegria onde o sorriso é fácil e afável.
Passámos recentemente por uma pandemia violenta onde a esperança de chegarmos ao fim alimentava a nossa alma fazendo-nos aguentar mil e um tipos de restrições ao nosso modo de vida.
Desenhámos arco-íris que afixámos nas nossas portas e janelas sem nunca pensarmos se havia ou não um pote de ouro no final.
Cantámos músicas de esperança ansiando por um dia seguinte melhor.
Como portugueses que somos, acreditámos que o melhor ainda estava para vir e não o pior.
O que vemos agora?
Uma guerra sem fim à vista à nossa porta. Preços nos supermercados que não baixam. Pessoas a sofrerem dia após dia para darem aos seus filhos condições mínimas de sobrevivência. Vizinhos e vizinhas a terem que pagar quantias obscenas para darem às nossas crianças o acesso a uma educação de qualidade que devia ser praticamente gratuita de tanto que pagamos de impostos. Gente qualificada a sair para outras pradarias disposta a perder uma vida familiar latina para poder dar futuro ao seu horizonte em sociedades não tão calorosas como a nossa.
E no meio deste cenário… assistimos a lavagens de roupa suja diárias em praça pública, jogos de sombras para iludir a incapacidade de liderança no país, demonstrações de falta de valores e princípios onde o único ponto comum é a ausência de noção das funções que exercem muitos dos nossos governantes. Olhamos em redor e nem vislumbramos uma luz ao fundo do túnel nem uma vela acesa que ilumine este buraco em que nos encontramos.
Olhamos para onde estamos e não temos dúvidas de que deveríamos estar num outro patamar da nossa evolução civilizacional. Constatamos que somos diariamente iludidos por promessas vãs que nos são feitas esperando que acreditemos em contos de fadas sem sequer nos darem um beijinho de boas noites no final como damos aos nossos filhos quando acabamos de lhes ler uma história de adormecer.
No meio deste caos quem nem minimamente organizado é, escutamos encantadores de serpentes a tocar melodias de ira, bateristas a martelar ódios aos nossos ouvidos, pandeiretas descompassadas e vozes de incentivo a revoltas espúrias.
Ficamos como espectadores supostamente atentos mas verdadeiramente alienados.
E o que fazemos?
Mudamos?
Ficamos?
Deveríamos encontrar respostas mas nem perguntas sérias e consequentes fazemos. Fingimos que exigimos soluções mas esperamos que alguém as encontre por nós. Entramos num carro com a carta de condução no bolso mas temos medo de nos sentarmos no lugar do condutor.
E no final do dia nem sequer perguntamos o que devíamos perguntar:
“Temos o que merecemos ou merecemos o que temos?”.

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