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Ricardo Andrade – Comissário de Bordo
Ricardo Andrade
Comissário de Bordo

Opinião de Ricardo Andrade

Abril é de todos!

4 de abril de 2022
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Começo hoje por confessar aos leitores que sempre que chega a altura de escrever algumas linhas para Abril procuro sempre fugir da temática previsível de abordar a importância deste mês na história democrática portuguesa.

Habitualmente consigo... ou melhor... normalmente trilho esse caminho de não falar de Abril em Abril.

Desta vez não o farei. Não porque tenha mudado a minha linha de pensamento de que o 25 de Abril deva ser celebrado todos os dias e não apenas no seu mês. Não porque tenha cedido à tentação de escrever um artigo acerca de Abril como tantos outros. Não porque queira discorrer linhas e linhas acerca da Revolução de Abril e do seu valor histórico.

Mas porque senti que era o momento de falar um pouco sobre o 25 de Abril de 1974 e sobre a forma como Abril não tem de ser igual para todos. Senti que era o momento de falar um pouco sobre a necessidade de respeitarmos Abril não o partidarizando como muitos fazem recorrentemente. Senti que era a altura de deixar bem claro que a liberdade deve ser celebrada sem amarras ideológicas redutoras.

Desde pequeno que ouvia falar no 25 de Abril. Na escola ou na rua como muitos mas também em casa dos meus pais e dos meus avós. Escutava relatos de quem viveu e de quem fez Abril. Bebia as palavras de quem não precisava de apregoar Abril para o sentir. Retinha todas as perspectivas do Portugal de antes e pós 25 de Abril.

Talvez por isso me identifique enormemente com a ideia transmitida pela frase de que “ Se a Liberdade tivesse dono, era uma Ditadura”. Talvez por isso me incomode a ideia de alguns de que apenas eles podem falar do 25 de Abril de 1974. Talvez por isso discorde do pensamento de que Abril tem donos que não sejam toda a população portuguesa.

Sei que esta perspectiva demasiadamente frontal apontando o dedo aos que se arrolam de verdadeiros defensores de Abril pode ser vista como agressiva ou como um ataque deliberado. Sei que esta forma de pensar pode ser rotulada de uma opinião subversiva por parte de alguém que não viveu a Revolução dos Cravos ou que nunca vivenciou o dia a dia em ditadura.

Mas é justamente o contrário. Se há coisa que respeito é a história. Se há coisa que respeito é o passado. Se há princípios que defendo são os da liberdade e da democracia.

E é justamente por defender os valores e princípios que me foram passados por quem tem Abril no coração que não posso concordar com décadas e décadas de instrumentalização do 25 de Abril por parte de quem “enche a boca” para falar desse momento marcante da nossa história mas “cospe” diariamente nos seus ideias verdadeiros e abnegados. Daqueles que utilizam o dinheiro do erário público para homenagear Abril mas não constroem uma democracia mais fortes todos os dias.

Daqueles que querem enaltecer o 25 de Abril mas tentam apagar o papel do 25 de Novembro na nossa história. Daqueles que maltratam efectivamente Abril mas colocam o cravo na lapela sem perceberem que as verdadeiras medalhas não se reclamam... merecem-se.

Abril é de todos! A liberdade deve ser celebrada todos os dias! Abril somos todos nós!
Assim saibamos honrar a luta de tantos e tantos que sempre respeitaram verdadeiramente o 25 de Abril de 1974... antes, durante e até aos dias de hoje!!

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