Opinião de João Pedro Domingues
Superar limites
5 de setembro de 2021
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O mês de agosto foi caraterizado por três acontecimentos importantes. O primeiro foi as férias, há muito tempo desejadas, pelo menos para alguns, para poder recuperar, um pouco, o tempo perdido pela pandemia: muita água, muito sol, areia e muito pouca máscara.
O turismo foi feito predominantemente cá dentro, dando algum ânimo à economia local, nomeadamente a restauração.
O segundo acontecimento do mês de agosto foi os Jogos Olímpicos, que trouxeram às nossas casas e rotinas o elogio da superação. Após um ano de adiamento, eis que surge aquilo que sempre deveria ser a grande festa do desporto e da atividade física.
A prestação portuguesa foi positiva, saldando-se pela conquista de quatro medalhas, apesar das dificuldades surgidas com o confinamento.
A chegada dos nossos atletas a Tóquio foi o corolário de muito esforço, dedicação, espírito de sacrifício e uma constante superação dos seus próprios limites. Os atletas dedicam às suas vidas a prática desportiva que muitas vezes não é mais que um projeto de vida, um sonho a alcançar.
Mas para que estes nossos resultados possam ter continuidade e regularidade, é fundamental uma forte aposta, consciente e responsável, no Desporto Escolar. É aí que tudo pode e deve começar.
Como já referi anteriormente, o desporto e a educação deviam caminhar lado a lado.
Foi pena que a falta de público, que tanto galvaniza os atletas, se fizesse sentir.
No entanto, gostaria aqui de ressaltar os Jogos Paralímpicos que estão a decorrer.
O desporto, na alta competição, visa chegar mais longe, ser mais rápido e mais forte. Os atletas normalmente são elevados á condição de heróis. Os resultados, consubstanciados nas medalhas, fazem esses homens e mulheres, inesquecíveis pelo esforço e dedicação que foram capazes de alcançar.
Contudo, sem o mesmo tipo de mediatismo, temos outro tipo de heróis. A homenagem que podemos, e devemos render a estes, homens e mulheres, que fazem todos os dias das suas limitações exemplos máximos de superação, não passa só por lhes estarmos reconhecidos pelos feitos e conquistas de que são capazes, mas sim por através do seu exemplo, trazemos para as nossas vidas quotidianas os ensinamentos que a sua forma de entender o desporto e a competição poderão representar.
Todos os dias se teoriza a propósito de uma sociedade inclusiva. Assumimos a necessidade de criar condições para que os cidadãos com deficiência tenham acesso ao conjunto de serviços, lugares, carreiras profissionais, de forma natural.
Todos os dias temos ideias e sugestões para o concretizarmos. Já eles todos os dias nos demonstram que são eles quem constrói a tal sociedade inclusiva, são eles que nos demonstram as limitações que ainda temos.
A nossa principal limitação não passa por qualquer deficiência que nos limita a visão, a locomoção ou o entendimento. A nossa principal limitação passa por, apesar de termos todas as condições para ver e entender, não percebermos que ir mais longe, ser mais rápido e mais forte, não é uma questão de marcas ou medalhas; é uma questão de vitória, vencer sempre, e eles, todos os dias, vencem.
Vencem por eles e pelo seu orgulho, mas vencem também por nós.
A todos os atletas paralímpicos, em especial aos que representam o nosso país, agradecemos, e principalmente admiramos pelos vossos feitos, não pelas medalhas conquistadas, mas por não perderem a esperança de as alcançar.