Opinião de João Pedro Domingues
Revolta, tristeza e vergonha
6 de março de 2022
Partilhar
REVOLTA. Apesar de ninguém querer acreditar, o impensável acabou por acontecer.
Os mais velhos lembram-se da invasão da Checoslováquia, em 1968, os mais novos, têm ainda na memória a invasão da Crimeia em 2014.
E, não só, mas também, por essas dramáticas recordações, poucos acreditavam que tal pudesse ocorrer, tendo em conta as intervenções de Vladimir Putin no sentido de não pretender intervir militarmente.
Assumindo o papel de Czar do século XXI, Putin vestiu o seu verdadeiro fato de ditador, de invasor e do grande defensor da reconstrução do império soviético.
Começando por apoiar a independência das repúblicas fantoches de Donetsk e Lugansk, e com justificações completamente absurdas, preparou todo o caminho e invadiu, sem ninguém estar verdadeiramente à espera, a Ucrânia.
Foi o choque total, para quem ainda acreditava nas palavras do ditador. Ele afirmava que não queria, mas tinha sido obrigado. Ele não queria mesmo invadir, mas como tinha os tanques e as tropas ali tão perto da fronteira, acabaram por entrar, e ali estão ocupando mais, e mais, cada dia que passa.
Esta é uma clara violação do Direito Internacional e da soberania de um País e do povo ucraniano por parte da Rússia. Uma agressão violenta, que visa afrontar e intimidar um País independente, soberano e democrático.
Putin deixa bem evidente que procura estender a sua influência autocrática e ditatorial da Rússia para lá das suas fronteiras. Os Países vizinhos que se cuidem. É uma atitude revoltante que todos devemos repudiar.
TRISTEZA. Apesar das várias intervenções dos países europeus, e dos seus líderes, a Europa não estava verdadeiramente preparada para este desfecho. Foram avisando Putin que deveria ter cuidado, que deveria repensar as suas atitudes, que iria sofrer sanções, mas, de facto, a Europa não estava preparada para exercer uma ação forte e atempada.
A demora na imposição de sanções económicas permitiu que a Rússia se tivesse preparado com alguma antecedência e não pareça nada preocupada com a questão. As sanções impostas pela Europa só irão ter impacto na Rússia dentro de algum tempo, e não no futuro mais imediato. Mas essas sanções, para além de pretenderem pressionar a sociedade russa, terão igualmente forte impacto nos países europeus.
E, para além do mais, a Rússia tem a China ali tão perto, para lhe dar uma mãozinha se for necessário.
A solução? Diplomática acima de tudo. Mas é necessária uma posição mais musculada. A Ucrânia não pode estrar sozinha nesta questão. A Europa tem de estar unida, pois esta invasão é um presságio bem perigoso.
VERGONHA. Nas intervenções públicas dos vários partidos políticos do espectro nacional, quase todos repudiaram a ação russa. Todos? Todos não! Ao Partido Comunista aplica-se a velha máxima de orgulhosamente sós.
E senti vergonha, quando na última Assembleia Municipal de Loures, na discussão das várias moções condenando a invasão da Ucrânia por parte de Putin, a bancada do PCP veio, sempre de modo tímido, mas alinhando na mesma cartilha do Comité Central, afirmar que esta invasão se deveu ao não desmantelamento da NATO.
A invasão é aplaudida e justificada, pela perigosa estratégia belicista da NATO, dos Estados Unidos e da União Europeia. Tudo por culpa do imperialismo americano. Para o Partido Comunista Português continua a existir um imperialismo bom e um imperialismo mau. Claro que o bom é, como não poderia deixar de ser, o soviético.
Nas votações destas moções, o PCP de Loures, tentou branquear a invasão em causa, não assumindo que se estava a falar da violação da soberania de um povo e de um enorme atropelo dos Acordos de Minsk.
Senti vergonha. Esta é uma atitude que a todos envergonha.
Não se avizinham tempos fáceis e a Europa, bem como todos os países democráticos, porque é também de democracia que se trata, devem estar unidos, não só nas palavras, mas igualmente nas ações.
Eu, estou verdadeiramente preocupado.