Opinião de João Pedro Domingues
Obviamente… não se demite.
6 de novembro de 2021
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O Presidente da República, procurando uma vez mais ser demasiado interventivo na vida política do nosso burgo, antecipou uma eventual crise política, ao afirmar que se o Orçamento Geral do Estado não fosse aprovado, a consequência que tiraria seria a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições legislativas antecipadas. Ao promover este cenário, como que antecipou a crise política que agora está premente. Uma crise ainda de contornos imprevisíveis, mas totalmente incompreensível face ao momento que vivemos.
Creio que foi uma total precipitação do Presidente da República, numa altura que deveria ser de contenção, de prudência, e de uma negociação, eventualmente com a sua mediação, longe das câmaras de televisão, e sem a necessidade do protagonismo que tanto o caracteriza.
A alternativa a um eventual chumbo do Orçamento de Estado não é, por obrigação, a dissolução da Assembleia da República. Essa é a única alternativa que Marcelo Rebelo de Sousa projeta no imediato.
Os partidos, ditos de esquerda, que durante os últimos seis anos, aprovando os sucessivos Orçamentos de Estado, participaram de forma ativa na saída do País do marasmo e da crise pós Troika, agora, quando estamos a tentar sair de uma pandemia que arrasou a economia, que dizimou o turismo e colocou em enormes dificuldades a restauração, as empresas e todo o comércio, agora, quando a dita esquerda deveria estar unida, e imbuída de um espírito responsável, decidiu, por razões ainda pouco compreensíveis, optar por não aprovar o Orçamento na generalidade, não permitindo que o mesmo sofresse as alterações possíveis na especialidade.
Foram as lógicas partidárias versus o interesse do País.
É isto, esta atitude em que se pensa no suposto interesse partidário, ao invés de se pensar no interesse nacional, no interesse das pessoas, que leva a que uma significativa percentagem do eleitorado não vá às urnas e tenha uma imagem pouco dignificante da política e dos políticos.
Não se conseguiu ouvir nenhum argumento que demostrasse haver uma suposta vantagem para o País nesta situação de instabilidade, proveniente do chumbo ao Orçamento.
Não se conseguiu ouvir nenhuma declaração que demonstrasse que todos ficariam melhor sem a aprovação deste Orçamento e das medidas nele constantes.
O PSD, em notórias convulsões internas, há muito que anunciou que iria votar contra o Orçamento, tentando demonstrar, sem o conseguir, que seriam diferentes nas prioridades para o País.
No entanto, os partidos ditos de esquerda, demonstraram com esta sua posição de reprovação deste tão importante documento, quais são os seus verdadeiros interesses e que objetivos pretendem alcançar.
Resta-nos o grande sentido de responsabilidade de António Costa, quando afirma estar preparado para governar, mesmo se o Orçamento para 2022 chumbar. E afirma estar preparado para cumprir os seus deveres para com o País, que é manter Portugal na trajetória de governação que tem vindo a ser prosseguida.
E, obviamente… não se demite.