Opinião de João Pedro Domingues
É inadmissível qualquer tipo de violência
4 de novembro de 2024
Partilhar
Tendo em atenção os acontecimentos ocorridos nos últimos dias, era natural que esta minha reflexão pudesse incidir sobre os mesmos, em especial porque alguns desses graves momentos tiveram lugar na freguesia onde já fui presidente e onde continuo a conhecer grande parte da população. População essa que sempre pautou a sua ação com grande civismo e respeito pelo outro.
A tragédia, de contornos ainda não totalmente clarificados, que teve o seu epicentro na Amadora, precipitou um conjunto de ações, completamente incompreensíveis, e que têm alimentado toda uma comunicação social ávida de notícias sensacionalistas e, na maior parte das vezes, com uma elevada carga demagógica.
A morte de um cidadão, independentemente da sua cor, origem ou religião, e nas condições em que a mesma se verificou, deve ser sempre de lamentar, mas devemos ter sempre grande cuidado em julgamentos precipitados, quando não estamos na posse de todos os dados que nos permitam ter um juízo mais consolidado.
Sabemos que um cidadão não acatou uma ordem policial, para parar o seu veículo, abalroou várias outras até se imobilizar, entrou em eventual “confronto” com os agentes da PSP e, foi baleado mortalmente, por um desses agentes. Isto é o que neste momento (pelo menos quando escrevo este texto) sabemos em concreto.
A PSP foi lesta, e mal na minha perspetiva, em emitir um comunicado, como que desculpabilizante dessa força policial. Deveria, antes, ter feito um comunicado, lamentando o sucedido, enviando as condolências para a família enlutada, e anunciando as investigações necessárias, para um total esclarecimento dos factos. Não culpando ou desculpabilizando nenhum dos intervenientes. Não foi isto que fez, e, no meu entender, fez mal.
E se a PSP agiu mal, depois de apurado o sucedido deve ser responsabilizada por isso, e daí tirar as devidas ilações e consequências. Contudo, enquanto não se apurarem todos os factos, manda a prudência que devemos ser contidos nas análises que fazemos, o que não sucedeu com as televisões e alguns órgãos de comunicação que, de algum modo, mesmo que não intencionalmente, incendiaram a situação.
As ações que a seguir se despoletaram não são, de modo algum, justificáveis e aceitáveis. Um, ou vários, grupos de criminosos, tenho de o chamar assim, quiseram fazer justiça pelas próprias mãos. Mas de que forma o fizeram? Incendiando os caixotes de lixo, vandalizando e incendiando carros particulares e autocarros dos transportes públicos.
O vandalismo chama a atenção pública, mas normalmente tem um efeito contrário ao pretendido, suscitando a revolta da população. Que responsabilidade pode ser imputada a todos os que tiveram os seus carros, a sua propriedade que tanto custou a adquirir, completamente destruída?
E que culpa teve o motorista do autocarro que em Santo António dos Cavaleiros, ficou gravemente ferido, com queimaduras gravíssimas, porque não o deixaram sair da viatura e o incendiaram? Foi um crime hediondo o que cometeram. É indesculpável.
A grande maioria dos residentes nos bairros onde se têm verificado alguns destes lamentáveis episódios, não se reveem na forma como os mesmos têm ocorrido e repudiam completamente essa atuação.
E, na minha opinião, não devemos confundir estes acontecimentos, estes atos criminosos, com o problema da imigração, como alguns pretendem fazer. São duas coisas muito distintas, situações com problemáticas diferentes, mas que alguns, por motivos dúbios, ou talvez não, pretendem juntar no mesmo problema.
Estes acontecimentos vão permitir, que todos, nomeadamente Governo e Autarquias, reflitam sobre que medidas devem ser adotadas para evitar, ou pelo menos minimizar, o sentimento de insegurança que se vive nalguns destes locais. Mas devem ser convocados para essa reflexão todos os atores com responsabilidades nas várias comunidades.
Como referiu, e bem, o Presidente da Câmara de Loures, é preciso retomar projetos que no passado recente tão bons resultados deram. Por exemplo, o policiamento de proximidade, que mais não era que agentes que, a pé ou de carro, percorriam diariamente as ruas dos bairros, mantendo uma proximidade com a população, e sendo uma parte ativa na segurança dos locais.
Também os Mediadores, que mais não eram que agentes locais dos bairros. Tinham formação profissional acreditada, assumiam, enquanto mediadores, os eventuais conflitos próprios das comunidades, e funcionavam com interlocutores privilegiados.
Os Contratos Locais de Segurança, que envolviam as forças policiais, as autarquias e toda a comunidade, eram também dissuasores de querelas. E, por fim, a videovigilância, que tarda em acontecer, tal a burocracia que a rodeia.
Alguma coisa tem de ser feita, para não permitir que forças extremistas, como o Chega, cavalgue uma onda securitária, em que defende que a polícia tem sempre razão, independentemente do que faça e como o faça.
É claro que, em relação à violência, a mesma é inadmissível e estou, e todos deveremos estar, ao lado das forças de segurança, sem reservas, na reposição da paz, da tranquilidade e da segurança pública, sempre que esta for ameaçada.
Bom senso e muita ponderação é o que se exige de todos nós, quando poderá estar em causa uma maior conturbação social que pode ameaçar a segurança de todos, independentemente da cor, origem ou religião.