Opinião de João Pedro Domingues
Sem enterrar a cabeça na areia
11 de dezembro de 2024
Partilhar
Sou militante do Partido Socialista há muitos anos. E sou, porque partilho dos seus ideais e valores, porque adiro e sempre me identifiquei com Mário Soares, e porque é um Partido que sempre pautou a sua atuação por critérios de solidariedade, igualdade e de liberdade.
Defendo, porque sempre acreditei, que o PS é um Partido de tolerância, de liberdade de pensamento, de humanismo e de inclusão. E sempre acreditei, e quero continuar a acreditar, que os adversários políticos estão lá fora e não no interior de meu Partido.
Os últimos acontecimentos não têm mostrado ser assim. E foram alguns militantes, e alguns com responsabilidades atuais ou passadas, que rapidamente atiraram as primeiras pedras.
Será este, atualmente, o Partido onde sempre militei?
Ricardo Leão, um camarada que desde sempre tudo deu ao Partido, pautou a sua conduta pelo bem-estar da população de Loures. Teve, como ele próprio o afirmou, um momento menos feliz, numa discussão mais acalorada, em que as palavras saíram de um modo menos racional e feliz, mas que não pode, nem deve, comprometer o pensamento e conduta humanista que sempre o acompanhou.
Mas, terem sido, de forma algo violenta, os camaradas de Partido e alguns de percurso, os primeiros a criticá-lo e a tentarem crucificá-lo, é algo que não consigo entender.
Na política, mesmo na interna, não pode valer tudo.
Nunca, mas nunca, foi referido por Ricardo Leão, que os tristes acontecimentos, que incluíram uma tentativa de homicídio do motorista da Carris Metropolitana, tinha uma relação direta ou indireta com o fenómeno da imigração. Tentaram, não consigo perceber porquê, ligar estas duas vertentes, sendo que nada as pode relacionar neste nefasto episódio.
O Partido Socialista nunca foi, e não deverá ser, um partido de iluminados, de comentadores televisivos, distante das pessoas e dos seus problemas e anseios. Ricardo Leão prima a sua atuação pela proximidade e pela interação com as populações e com os problemas. E isso, no limite, pode incomodar alguns camaradas. Serviu, inclusive, para um “ataque” mais ou menos subtil ao secretário-geral. São formas de estar.
A questão é de direitos e deveres, como de resto já tive a oportunidade de escrever em texto anterior. A Câmara Municipal a que Leão preside tem pautado a sua atuação por critérios de equidade e justiça social. A Câmara cumpre com os seus deveres e exige que a outra parte cumpra com os seus deveres. Direitos iguais, deveres iguais.
E a segurança, foi a pedra de toque desta situação. Falar, como deve ser falado, de segurança, não é ser de esquerda ou de direita. E não se deve não discutir esta temática e deixar que os partidos populistas cavalguem esta questão estrutural para qualquer sociedade.
Também não é falando mais alto que a extrema-direita que a situação se resolve. É discutindo, sem preconceitos e sem reservas mentais, que se devem encontrar as soluções necessárias.
Leão, sempre o conheci como um autarca de esquerda, humanista, solidário e com liberdade de pensamento genuíno, nunca pondo em causa os ideias socialistas. E, como ele referiu, sem enterrar a cabeça na areia face aos problemas existentes.
Loures e o Partido Socialista devem estar orgulhosos do autarca e do político.