Ninho de Cucos
Fontaines D.C. - Romance
9 de setembro de 2024
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Acaba de ser lançado o quarto álbum do quinteto irlandês Fontaines D.C..
Chama-se “Romance”, foi produzido por John Ford e segue o processo de alargamento na direção musical, já iniciado em “A Hero’s Death”. Cada disco de um artista capta de forma geral o momento.
O momento pessoal e toda a envolvente externa que o condiciona e se repercute de forma direta na música e textos apresentados. No caso dos irlandeses do Fontaines D.C. a precisão da imagem capturada em cada um desses momentos é grande e honesta e vem desde a sua estreia, na euforia desenfreada de “Dogrel”, passando pela necessidade de pertença e saudade de casa evocada em “Skinty Fia”, até ao tom bem mais diversificado do atual trabalho.
Há neste trajeto algo da atitude dos Arctic Monkeys, não propriamente ou exatamente da música.
Em “Romance”, a banda dá um passo adiante em relação a tudo que fizeram até aqui, deixando para trás, por exemplo, o rótulo de banda Pós-Punk ou de Indie-Rock/Alternativo, para se tornar um grupo onde todas as opções são possíveis dentro dos arranjos (o que pode ser um pau de dois bicos). É algo que Grian Chatten, o vocalista dos Fontaines D.C., já havia expressado anteriormente em diversas entrevistas e que passa entre outras coisa por referir os Korn ou Deftones como influências.
“Romance” utiliza arte gráfica da artista Lulu Lin e revela uma banda disposta a deixar para trás o rótulo de “banda de guitarras”, concentrando-se em construir canções que podem incorporar novos instrumentos, novas sonoridades e novas referências musicais, mesmo tendo deixado claro que o álbum “bebe” mais em referências de lugares do que musicais.
Um dos temas bem representativos deste azimute ajustado é o etéreo “Sundowner”, escrito por Conor Curley e com as vocalizaçoes divididas entre o guitarrista e Grian. E a própria escolha de James Ford para a produção, responsável por produzir trabalhos de artistas como Depeche Mode, Geese, The Last Dinner Party, Pet Shop Boys, Beth Gibbons, entre outros, é sintomático da busca de mudança.
Escutemos “Romance”, faixa título que abre o álbum, com sonoridade misteriosa e toque oriental e saltemos depois para o quase hip-hop sufocante de “Starbuster”, com spoken-word ao jeito dos The Fall e um final melódico à la Blur para perceber o contexto. “Favourite”, cujo o ambiente remete para o lado mais pop e acessível dos The Cure é um contraponto à abertura densa do disco.
De resto, esbarramos em várias baladas construídas à guitarra acústica e adornadas por camadas de orquestraçao, como em “Motorcycle Boy”, “In th Modern World”, a já citada “Sundowner”, em “Horseness is the Whatness” e na balada “Desire”, que começa suavemente e vai crescendo talvez para levantar estádios,ou não.
Cabeças de cartaz de muitos festivais europeus no verão de 2024 (como foi o caso em Paredes de Coura), os Fontaines D.C. preparam-se para regressar a Portugal em Novembro, bela oportunidade para confirmar as aclamadas prestações ao vivo da banda irlandesa.