Ninho de Cucos
Father John Misty - Mahashmashana
11 de dezembro de 2024
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“Mahashmashana” que significa grande campo de cremação em sânscrito, foi o nome escolhido para o 6º álbum de originais de Father John Misty editado no passado dia 22 de Novembro.
Sem quaisquer rodeios e indo diretamente ao assunto, estamos perante um excelente e inspirado trabalho de Father John Misty, aliás Josh Tillman que aos 43 anos se apresenta num evidente pico de forma, permitindo-lhe até a desfaçatez de recusar capa na prestigiada revista Rolling Stone . “És a pessoa menos famosa que alguma vez recusou o convite!”, terão exclamado os editores da revista perante tal atrevimento.
Com oito magnificas e particularmente longas canções, Josh Tillman afirma estar provavelmente perante o seu último disco sob o pseudómino Father John Misty. O próprio título do disco dá a entender essa vontade de seguir por outros caminhos mas se é para culminar um ciclo … que seja em grande. Em “Mahashmashana”, Father John Misty recupera as temáticas da angústia existencialista, do apocalipse e das drogas, sempre presentes na sua carreira, sobretudo as alucinogénicas, que usa em doses mínimas como uma espécie de automedicação para atenuar os efeitos da depressão e ansiedade, doenças mentais com as quais confessa ter de lidar desde a adolescência.
Os arranjos instrumentais exuberantes e luxuosos são banda sonora para a confrontação entre real e metafísico, vida e morte, de forma requintadamente provocatória.
O arranque do disco com o tema título de mais de 9 minutos de duração, é um risco calculado na beleza triunfante de uma construção musical ao jeito de George Harrison, onde psicadelismo e soft rock se fundem na perfeição.
Magníficos são igualmente “Screamland”, seis minutos de cordas, ambientes cósmicos e guitarras carregadas de efeito em perfeita sintonia e “I Guess Time Just Makes Fools of Us All”, oito minutos de blues à Leonard Cohen com um belo solo de saxofone.
Já o tema “She Cleans Up”, parte de uma observação sobre Maria Madalena para tocar questões como violência doméstica, abusos e o papel das mulheres na sociedade. Ironia humor e provocação numa base instrumental mais despida mas de apelo imediato à dança rock n’roll.
Melhor álbum de Father John Misty, desde "I Love You, Honeybear".
A não perder!