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João Alexandre – Músico e Autor
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Cindy Lee - Diamond Jubilee

6 de janeiro de 2025
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“Diamond Jubilee”, 5º álbum de originais de Cindy Lee foi já lançado no primeiro semestre de 2024. Com mais de duas horas de duração, o disco duplo que o canadiano Patrick Flegel produziu sob o nome Cindy Lee (seu alter ego drag queen) propõe uma experiência intensa na sua escuta, uma diversidade sonora e estética, de forma a possibilitar a sensação de que já escutamos algo assim, mas nunca um disco como este.
Tudo isto resulta da forma como as 32 músicas que formam a obra são disponibilizadas, seja compradas no formato WAV, de alta qualidade, ou através de acesso via link no YouTube, sem quaisquer separadores das faixas.
Esta opção está relacionada com o controle que Cindy Lee pretende no que respeita ao modo como o seu trabalho se apresenta perante os ouvintes, numa época que sujeita os músicos aos modelos de negócio das grandes plataformas digitais e os torna reféns dessas políticas.
Patrick Flegel explica que para além da precarização da sua atividade, ele não concorda com o uso da verba que o Spotify destina a empresas que desenvolvem tecnologias a partir de inteligência artificial.
A implicação prática para quem escuta “Diamond Jubilee”, será descarregar os quase 2 GB de música (e fazer uma doação de 30 dólares como o site pede), ou escutar o disco na íntegra e sem anúncios, pelo YouTube, sujeito à forma escolhida linearmente para mostrar essas canções.
É uma proposta discutível e corajosa na era do streaming e onde impera a customização das playlists. Mas é uma opçao sustentada neste caso específico de “Diamond Jubilee” pela excelência musical que ostenta.
Com produção do próprio Patrick Flegel, “Diamond Jubilee” passeia livremente por grande parte do legado da música independente das últimas décadas.
Pop dos anos 50, funk, soul e muita, muita banda sonora do tipo “Twin Peaks”, despojada, é certo mas identificável e com momentos de assinalável mestria em canções com história e histórias.
Há um experimentalismo que se percebe em grande parte das faixas e que reflete uma vontade de fazer algo minimamente original mas em simultâneo a remeter para a memória afetiva dos fãs. Da reverberação das vozes, ao baixo que carrega grande parte das melodias, acompanhado pela percussão geralmente discreta (e por vezes, descompassada), em canções sobre o amor quase sempre na perspetiva da perda, evocando o lado mais clássico da música, de forma única.
Um belo e intrigante disco de 2024.

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