Ninho de Cucos
Beth Gibbons - Lives Outgrown
2 de junho de 2024
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A caminho dos 60 anos de idade, Beth Gibbons, após a marcante carreira dos seus Portishead e das experiências com Paul Webb, em 2002 “Out of Season” e com a Orquestra Sinfónica da Rádio Nacional da Polónia, no disco “Henryk Górecki: Symphony Nº. 3 Symphony of Sorrowful Songs", em 2019, eis que acaba de ser lançado, o seu verdadeiro, por assim dizer, 1º trabalho a solo, intitulado “Lives Outgrown” .
Intemporalidade, é a característica marcante da sua voz, sofrida mas repleta de sensualidade e mistério. A forma eloquente e honesta como transmite os sentimentos da sua música, transforma-a em algo maior que as suas próprias canções e na verdade, só nestas condições específicas de reconhecimento público uma artista pode sobreviver a hiatos de dez e mais anos. E dez anos foi o que demorou “Lives Outgrown” a ser feito.
De facto o tão aguardado álbum, um trabalho delicado que deve ser escutado sem pressa e de que se vai gostando cada vez mais à medida que se escuta de novo, foi ganhando forma ao longo de mais de uma década tendo contado com a parceria do baterista Lee Harris, ex-membro dos Talk Talk, e com a talentosa mão do produtor James Ford.
Beth canta sobre a vida e os laços que são construídos pelo caminho, amores, dores, angústias, perdas e envelhecimento.
O disco oferece-nos dez excelentes temas bem harmonizados que funcionam em sintonia, diferenciando-se cada um deles pelas meticulosas camadas instrumentais adicionadas pouco a pouco, seja através dos doces acordes dos instrumentos de cordas, seja através das percussoões orquestrais cinemáticas, ao jeito dos álbuns experimentais dos Radiohead .
A voz tocante de Beth Gibbons e a poesia à volta da relação com a morte fazem o restante e não é nada pouco!
Toda essa profundidade e densidade melodramática tem o seu quê de “Dummy”(1994), obra prima dos Portishead.
O poder aglutinador de “Lives Outgrown” apesar de experimental é inequívoco. As faixas ligam-se umas às outras e nem o ritmo lento geral do álbum o torna maçador, claro está, assim se proponha o ouvinte a entrar neste mundo de Beth Gibsons que é também e por vezes o de Joni Mitchell, PJ Harvey e outras mulheres marcantes da música na transição dos séculos.
"Floating On A Moment" é um belo clássico instantâneo deste disco, tal como “Reaching Out”, “Rewind”, “There There”, Oceans” e “Tell Me Who You Are Today”, no entanto não é justo fazer destaques num álbum que não é de destaques
'Lives Outgrown', um disco desafiador, bonito e que nos faz pensar.
Como li algures, Beth Gibbons transforma sofrimento em arte.