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João Alexandre – Músico e Autor
João Alexandre
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Ninho de Cucos

Adrianne Lenker - Bright Future

7 de abril de 2024
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Dois anos após o lançamento de “Dragon New Warm Mountain I Believe in You” da sua banda Big Thief, com entrada no Top 40 americano, eis que foi lançado no passado mês de Março, o quarto longa-duração de Adrianne Lenker, “Bright Future”, um exercício muito íntimo à volta das temáticas do amor, das mudanças climáticas, da gratidão e opressão, com registo personalizado, como nunca havia acontecido nos Big Thief.
Se no seu trabalho anterior a solo, Lenker gravou sozinha com o engenheiro de som Phil Weinrobe (que regressa para co-produzir em “Bright Future”), desta feita expande as participações aos amigos Nick Hakim (piano, voz), Josefin Runsteen (violino, voz) e Mat Davidson (guitarra, piano, violino, voz).
A primeira informação que temos na sinopse do álbum é a de que é um trabalho AAA, ou seja, analógico na gravação-analógico na mistura-analógico na masterização (não aplicável por isso ao formato cd), excluindo completamente as interações digitais das técnicas de gravação contemporâneas “Bright Future” é mais do que um álbum à moda antiga que exibe não só a capacidade técnica de Lenker e dos convidados Nick , Josefin e Mat, mas também e sobretudo, a entrega do “grupo” nas performances ao vivo.
Gravações efetuadas em fita no estúdio Double Infinity, um estúdio remoto, numa floresta na Nova Inglaterra.
Nesse espaço inspirador gravaram temas como o excelente single "Sadness as a Gift", a peculiar canção de guitarra elétrica "Fool", a jam acústica "Vampire Empire" (uma música anteriormente gravada pelos Big Thief) e o tema sobre a catástrofe climática "Donut Stream".
Para preparar o cenário, porém, Lenker abre o álbum com "Real House", uma caminhada silenciosa pela estrada da memória que recorda momentos como o querer ser inventora, a primeira vez que viu a sua mãe chorar ou o enfrentar a morte depois de assistir a um filme de terror quando tinha sete anos.
Lenker de voz frágil, apoiada apenas por acordes mínimos de piano e raras ou não tão raras frases de violino.
O álbum “Bright Future” é comovente, silencioso, místico, dilacerante, tão diverso o suficiente para que cada música seja sempre a favorita de alguém mas sempre sem filtros. Aliás segundo a própria, todas as canções foram gravadas sem retoques, sem correções e de uma vez, o que levou Lenker a só escutar os temas depois de todo o trabalho finalizado.
É talvez numa visão mais dura, mas sem perder a ternura que Adrianne Lenker se consagra como uma das maiores compositoras de sua geração. Apesar de muito prolífica cada frase das suas canções carrega a intenção de uma verdade absoluta, um pequeno espaço onde cabe a procura pela perfeição, a procura da beleza dentro da tristeza, dos corações partidos e enfim, das histórias de vida.
Com 12 faixas e 40 minutos, “Bright Future” revela-nos Adrianne Lenker aos 32 anos, natural de Indianapolis, a viver há dez anos em Nova Iorque, como uma artista superior, incansável na procura da tal canção perfeita.
Esta busca orgânica iniciada nos álbuns anteriores, explora com distinção terrenos conhecidos do folk e do country sob um título auspicioso, positivo e de esperança, “Bright Future”.

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