Opinião de Joana Leitão
“Gostar de animais” é uma falácia
7 de novembro de 2020
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A maior parte das pessoas usa a expressão “gostar de animais” convicto que, quando assim é, é isto que sente. Mas a verdade é que parecemos um pouco baralhados.
Gostar do cão ou do gato não é gostar de animais, porque deixamos de fora todas as outras espécies, tais como o cavalo, a vaca, o elefante, o caracol e tantos outros que vivem debaixo do mesmo céu e têm direito à mesma terra.
A maioria das nossas ações passou a envolver atividades de exploração animal que não se cingem à alimentação. O que vestimos, utilizamos e até a forma como encaramos o divertimento tem reflexos extremos na vida de tantos animais todos os dias. Quando passeamos nos jardins zoológicos, nadamos com golfinhos, andamos de elefante ou de charrete, contribuímos para a manutenção de certas indústrias. Claramente não é porque não matámos a vaca ou porque não espetámos uma bandarilha num touro que as suas vidas miseráveis não são da nossa responsabilidade.
E a verdade é que existem soluções alternativas. Na alimentação, a opção por um consumo mais reduzido mas biológico só nos traz benefícios à saúde, já que o que se produz em condições de sofrimento atroz não oferece nada de bom. Existem, igualmente, alternativas alimentares com sabores semelhantes e sem dor. No vestuário e acessórios também se encontram hoje materiais sintéticos confortáveis e de qualidade. E sempre que nos divertimos através de uma atividade que implique prender, manipular ou fustigar animais, não mais estas atitudes podem ter um fim. Quando temos um número quase ilimitado de serras, praias e de locais maravilhosos para passear, viajar, fazer desporto ou desenvolvermos outras práticas.
Ou seja, importante é que tenhamos consciência destas implicações pois só assim podemos fazer as nossas escolhas. Alegar desconhecimento já não é desculpa e a transformação do nosso comportamento só acontecerá quando mudarmos aquilo em que acreditamos. Que é um processo. Que todos fazemos, de forma a tornar as nossas palavras coerentes com a nossa atitude. Caso contrário, aquilo que dizemos será apenas uma mentira.
E deter um cão ou um gato sem reunir as condições, prendendo-o, acumulando-o e não lhe dedicando atenção também não é gostar sequer destes dois. É gostar de nós. E só. Já que gostar pode implicar não ter. Permitir liberdade, deixar ser feliz. Deixar viver. Ah não, isso é amor.