Anuncie connosco
Pub
Opinião
Joana Leitão – Jurista
Joana Leitão
Jurista

Opinião de Joana Leitão

Afinal existe racismo

3 de outubro de 2020
Partilhar

Não é possível afirmar que não existe racismo nem em Portugal nem em qualquer outra parte do mundo. Aliás, se assim fosse, não seriam necessárias manifestações de afirmação da não existência deste tipo de discriminação, nem notícias a enaltecer a contratação de um jornalista televisivo de uma cor diferente da habitual, pois tudo isso seria mérito e natural.

A verdade é que erradicar o racismo não é assim tão simples. Para que a mudança de comportamento seja eficaz, é preciso que as crenças, transmitidas de geração em geração, se modifiquem. O passado histórico traz com ele uma carga pesada, de escravatura, abuso e retaliações, atos violentos de todos os grupos envolvidos, não ultrapassáveis se não se perdoar. A comunicação social, tão potenciadora da formação da opinião pública, ainda não encontrou forma de expor o assunto sem constrangimentos, acabando por pôr a descoberto mais divergências do que pontos comuns. E os órgãos governativos não dedicam tempo suficiente à inclusão, onde reinar entre divisões parece ser mais fácil do que governar na união. Contextos onde se criam abismos que só vão permitindo passos de caracol. A variabilidade genética que inclui a cor da pele parece ser só a base do racismo, quando são as crenças e os preconceitos que lhe dão força.

Crenças de uma superioridade racial que a ciência não comprovou e de que a nossa cultura é melhor do que a dos outros. De facto, não fomos ensinados a lidar com a diversidade, o que nos torna particularmente vulneráveis e focados em tudo o que é diferente. E que não se cinge à gastronomia, música, dança ou aos hábitos, mas é bem mais profundo, e que vai da discriminação entre homens e mulheres à forma como lidamos com personalidades que não sejam iguais às nossas.

Já todos nós, nalgum momento, tivemos algum pensamento discriminatório, que reprimimos em vez de tentarmos perceber porquê ou de possibilitarmos um contacto mais próximo com outras realidades.

O problema não está na existência de diferenças. Elas existem e vão existir sempre. O problema está em não as aceitar e não saber lidar com elas. E é por isso que, um dia, quando respeitarmos a sua existência, perdoarmos os nossos antepassados e nos apercebermos que a diversidade até pode ser boa, talvez possamos falar de espécie em vez de raça.

Última edição

Opinião