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Opinião
Florbela Estevão – Arqueóloga e Museóloga
Florbela Estevão
Arqueóloga e Museóloga

Paisagens e Patrimónios

o geossítio do Penedo do Gato

4 de agosto de 2024
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Seguindo a temática das crónicas anteriores, este mês sugiro aos nossos leitores a visita ao geossítio do Penedo do Gato, ou também conhecido por Pego do Diabo. Trata-se, mais uma vez, de um afloramento que se destaca na paisagem envolvente, especialmente se visto do vale de Ponte de Lousa. Embora localizado dentro da freguesia de Loures, este local está próximo do limite entre as freguesias de Loures e Lousa.
Para o visitar é indispensável gostar de caminhar pelo campo, e desde já asseguro que será um percurso muito agradável. Para os interessados proponho duas alternativas: a primeira, compreende partir da povoação de Migarrinhos, deslocando-se a pé na direção de um aerogerador e deste seguir um caminho de terra batida que o levará até às proximidades do afloramento; a outra possibilidade consiste em usar o “Trilho do Pego do Diabo”, caminho de pé posto que começa em Covas de Ferro (Mafra) o qual está identificado com placas de madeira, talvez este seja o mais fácil de encontrar.
Ora, o Penedo do Gato apresenta formas cársicas de grande expressividade que se desenvolvem num afloramento do Cenomaniano (no tempo geológico significa um período da história da Terra que teve o seu início há aproximadamente 100,5 milhões de anos e o seu término há cerca de 93,9 milhões de anos). É inquestionável o seu valor enquanto geopaisagem, não só porque reúne um conjunto de formas cársicas que lhe conferem grande importância ao nível científico, como também corresponde a um local paisagístico de grande valor. Na verdade, a vista do Penedo do Gato é fantástica! Do topo, podemos observar o casario da povoação de Ponte Lousa; os dois cursos de água - o rio de Loures e a ribeira de Lousa- serpenteando o mosaico das terras cultivadas; e no horizonte outros afloramentos como o Penedo Mouro ou a Diáclase de Salemas.
O interesse geomorfológico mais significativo do Penedo do Gato é a sua gruta, denominada com o mesmo nome, Gruta do Gato ou também conhecida por Loca do Gato, ou Gruta do Diabo. Evidentemente que esta gruta resultou de um longo processo de carsificação, e apresenta um corredor com aproximadamente 12 metros de comprimento e 1 metro de largura. A sua entrada é facilmente identificada devido à sua forma e dimensão.
No seu interior, destaco os pequenos depósitos de precipitação química, assim como os depósitos de calcite nas suas paredes, mais notórios nos locais mais profundos da mesma, situação que resulta do gotejar de água do teto. Mas, esta gruta tem outro interesse para todos aqueles que estudam ou se interessam pela história da Humanidade, uma vez que que serviu de abrigo temporário a grupos humanos do paleolítico.
Importa salientar que esta gruta foi objeto de várias intervenções arqueológicas nos finais da década de 80 do século XX, sob a direção de João Zilhão, escavações que permitiram concluir que a mesma foi ocupada durante o Paleolítico Superior. Ora, segundo os dados recolhidos este local terá sido usado como refúgio temporário e episódico por pequenos grupos humanos, os quais usaram este espaço para algumas atividades relacionadas com a manutenção do equipamento de caça. Dos poucos artefactos recolhidos destaque para uma faca de dorso em sílex. Na realidade, embora a gruta possibilite o controle visual de um extenso território, ela é muito desabrigada por causa dos ventos frios de norte e noroeste. Mas, a par da presença humana os restos faunísticos revelam a presença de várias espécies da altura que hoje já não podemos encontrar. Parte destes restos de ossos de animais devem ter sido acumulados pelos grandes carnívoros que também usaram esta mesma gruta. Assim, foram identificadas várias espécies como lince ibérico, o leão das cavernas, o lobo, a raposa, o cavalo, o veado, a camurça e a cabra-montês.

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