Anuncie connosco
Pub
Opinião
Filipe Esménio – Director
Filipe Esménio
Director

Mel de Cicuta

Pronto a comer, pronto a vestir, pronto a pensar

3 de março de 2024
Partilhar

Em período eleitoral, todos nós refletimos sobre Portugal e também sobre as nossas escolhas. A política não é futebol, embora por vezes pareça. Na política podemos mudar de clube ou podemos sofrer de clubite aguda. Seja qual for a nossa escolha, a verdade é que o nível do discurso tem vindo a radicalizar-se, à esquerda e à direita, os debates têm vindo a baixar o nível, quer na elevação quer no conteúdo e existe, da minha parte, uma real e forte preocupação com a política partidária e, por consequência, com o país. É necessário criar condições para que os quadros partidários sejam efetivamente mais qualificados e melhor preparados.
O circo televisivo não ajuda e seria ideal que não se transformasse a política no jogo de futebol. A política, tal como o futebol, também é emoção mas não pode perder o lado nobre que decide o nosso presente e, parcialmente, o nosso futuro. Karl Popper, escreveu um livro “Televisão um perigo para a democracia”, uma mente que antecipou o drama que vivemos este momento. E assim é. Verdade que a luta das palavras é melhor que a luta das armas, mas cada vez mais, a forma vence sobre o conteúdo. Ganha o melhor boneco, não o mais competente.
Temos jogos de futebol a todas as horas do dia, que convenha às audiências; temos debates demasiado curtos, em áreas muito reduzidas do debate público, ou seja, temos uma parte significativa da nossa vida, condicionada ou mesmo subordinada ao interesse ou de uns em detrimento do interesse coletivo. Por quanto tempo vamos permitir que assim seja?
E o pior é que esta formatação modela o cérebro das novas gerações, querem pronto-a-comer, pronto-a-vestir e pronto-a-pensar. Não é um problema nacional mas é um fenómeno que, somado às novas tecnologias e às técnicas de marketing associadas, criam uma distorção da realidade, transformando a sociedade de forma clara e evidente para um mundo pior. Um mundo mastigado com pouca profundidade e com um grande vazio. Então porque é que o permitimos?
Uma pergunta simples para uma resposta complexa. Na verdade, este modelo serve o interesse de muitos que infelizmente não estão assim tão preocupados com o interesse coletivo. Mas chega de filosofia mais ou menos barata. O importante é mesmo ir votar dia 10 em quem acredita poder fazer o melhor por nós e o melhor por Portugal.
A tecnologia foi feita para nos ajudar, para nos servir, para nos criar condições de vivermos melhor mas, por vezes, em certos casos, parece que os papéis se encontram invertidos. Enquanto houver homens e mulheres e um grande desenvolvimento da famosa inteligência natural, ainda há esperança.

Última edição

Opinião