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Opinião de Joana Leitão

O que muda com o novo ano?

6 de janeiro de 2020
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É comum chegarmos ao final do ano e fazermos um balanço. Por alguma razão, temos a ilusão de que nos encontramos perante fases estanques, que se iniciam e encerram, com novas oportunidades para recomeçar.

O mesmo acontece com as datas de aniversário. Pomos tudo em perspetiva, e analisamos cada sucesso ou derrota, contando que no ano seguinte os ventos nos tragam vitórias, como quem confia na sorte.

Chegados à meia-noite do dia 31 de dezembro traçamos novas metas da boca para fora e não nos focamos em objetivos reais, porque achamos que tudo acontecerá conforme está traçado e que o destino tem que ser bom. Desejamos que os ciclos dolorosos se encerrem por si e que tudo se resolva sem esforço. E andamos nisto. Ano após ano. Até tudo se voltar a repetir e voltarmos a ter esperança no ano seguinte.

E o novo ano vem mais forte do que os anteriores em lições de aprendizagem e estes ciclos não cessarão até que tomemos a decisão de enfrentar tudo aquilo que nos dá medo, que nos tira da nossa zona de conforto e que nos dói, porque é isso que tem que ficar resolvido. Talvez por isso a arte japonesa do kintsugi tenha tanto significado.

Objetos partidos ou marcados pelo desgaste são reparados com ouro ou outro metal valioso de forma a que a sua função não termine no momento em que se partem. Este conceito destaca e celebra a imperfeição ou o defeito, em vez de se concentrar neles, e enfatiza a melhoria através da destruição como forma de renascimento.

A beleza desta arte salienta o amadurecimento e as superações que todos temos na vida e talvez por isso os vasos quebrados depois de reparados sejam considerados mais valiosos. E assim é a vida, a intensidade do desconforto é proporcional à necessidade da sua resolução e equivalente à coragem que é preciso ter para o ultrapassar.

Só assim nos é permitido abrir novos caminhos e ir subindo os degraus que tanto ambicionamos. É por isso que nada muda com o novo ano, se não decidirmos mudar e que nada acontece se não o fizermos acontecer.

Não são 12 badaladas de oportunidades, são 86.400. Por dia. 365 dias por ano. Todos os anos.

Joana Leitão

Jurista

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