Das Notícias e do Direito
Fake news ou reinvenção de coscuvilheiras
4 de julho de 2021
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A todo o momento a expressão fake news é utilizada.
Outrora existiam boatos, rumores, murmúrios sussurrados, segredos que se diziam entredentes.
Depois apurou-se o genuíno prazer da fofoca. O comentar da vida alheia, umas vezes com inveja, outras com maledicência, ou apenas com sorrisos ou gargalhadas das diatribes da vida dos outros.
Aliás, lembremos as cantigas de escárnio e maldizer como exemplo robusto e apurado desta arte, aqui da critica e comentário.
Chegados à era digital, à rapidez das comunicações e ao tempo das redes sociais, multiplicam-se as notícias falsas.
Umas devem-se a erros de compreensão, de interpretação ou até de tradução do que tem origem noutros textos, noutras línguas, noutros órgãos de comunicação social.
Outras, porém, são deliberadas.
Para gerar debate, conflito, ou apenas bagunça e sururu.
Para divertimento, como quem lança fogo de artificio para o meio da multidão e fica a assistir ao caos que provoca.
Ainda, e cada vez mais comum, com fins muito bem definidos, e, em regra, ardilosos, capciosos e de índole duvidosa.
A saber, para publicidade e alterações do mercado. Para fins políticos, comerciais.
Enfim, imagine que surge uma notícia a dizer que as crianças de uma escola adoeceram depois de beber água da marca x. A velocidade a que as notícias se espalham, nas redes sociais, nos telemóveis, etc, é muitíssimo superior à capacidade de verificação ou de confirmação. Enquanto isso, as vendas caem e muitos irão vivenciar sintomas, ainda que apenas psicossomáticos.
O post que conta que um pretenso candidato enganou a Avó, ficou-lhe com o dinheiro e agora a pobrezinha está num lar sem visitas. Está-se mesma a ver a má língua e os múltiplos comentários e julgamentos, todos prévios ao desmentido do dito post.
E já nem falo das imputações sobre crimes, da violência doméstica ao abuso sexual, também os há para todos os gostos.
Se a isto juntarmos o fenómeno dos perfis falsos… onde vamos parar!
Para quem não sabe um perfil falso é a criação de um personagem nas redes sociais, mascarado, com outro nome, por forma a ver o que lhe estaria vedado em nome próprio ou comentar sob este pseudo anonimato.
De repente, quase sinto saudades das coscuvilheiras renomadas, que conheci, da pior forma, na adolescência. Aliás, onde vivi eram apelidadas de quadrilheiras, que andavam na quadrilhice, a inventar factos e a divulgá-los como verdades absolutas, qual quadrilha de criminosos à solta.
Com perfeita indiferença, se as suas invenções e comentários maliciosos gerariam algum milando, em alguma casa.
Assim, andam os tempos que vivemos, de mentira em mentira, para ganhar dinheiro, púbico ou atenção. Com absoluta e profunda indiferença para com conceitos como verdade e integridade. Com um confrangedor vazio intelectual que impede a utilização de argumentos, tão só porque os não sabem esgrimir. Vê-se o paupérrimo de espírito ascender graças aos rótulos que cola e aos assassínios de carácter que estas notícias, rumores e atoardas causam.
Entre a pandemia, os delatores de manifestantes, as eleições que se aproximam e o prazer de dizer mal do outro, augura-se muito disparate.
De facto, as cuscas arrumavam-se com um arregalar de olhos ou com uma tirada directa sobre as suas próprias casas e famílias, porém os cobardes do anonimato são mais difíceis.
Mas não impossível. As autoridades podem e devem actuar. Denuncie, queixe-se e não se deixe levar. Parte do que aí se faz reduz-se a difamação e difamação é crime.
Informe-se e deixe-se informar, não embarque em estórias, nem se deixe levar para nenhuma maka que lhe não pertence.
Saúde e prudência!