Das Notícias e do Direito
Da Guerra e de como não aprendemos nada
6 de março de 2022
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As minhas memórias de guerra datam de ser garota, e a percepção que tinha, é que metade dos noticiários eram sobre a guerra do Irão/Iraque.
Veja-se que fui criança e adolescente ainda em guerra fria, com notícias pontuais de tentativas de salto do muro, e com a emoção de assistir à queda do muro de Berlim.
Entrementes recordo, ainda, a das Malvinas/Falkland, mas foi bastante rápida e os danos causados não tiveram o mesmo impacto.
Depois veio a do Golfo, em directo, assistimos aos bombardeamentos e aos misseis patriot que destruiam os misseis adversários em pleno voo.
Mais próxima foi a moderna guerra dos Balcãs, com o desmembramento da Jugoslávia e a descoberta de quão sanguinários podiam ser os europeus, ditos civilizados.
Na ressaca do choque do 11 de Setembro tivemos a do Afeganistão e de seguida a do Iraque atrás das armas de destruição maciça.
Entretanto, não podemos esquecer aquelas que foram menos noticiadas, ou que nos estavam mais distantes, como os conflitos em Angola, o genocídio no Ruanda, as atrocidades na Libéria e o empurrar de populações inocentes para campos de refugiados, retirando-lhes a identidade, a privacidade e o ser.
Mas, vivemos com as imagens e os relatos da II Guerra Mundial, e em quase todas as casas em Portugal conhece-se alguém que esteve na Guerra Colonial. O meu Avô paterno, nomeadamente, foi prisioneiro de guerra na India, após a rendição à União Indiana.
Que sei eu?
Que a Humanidade não aprendeu nada.
Que se mantém ditadores e oligarcas, estribados no vil metal, em interesses próprios, que ignoram o Povo que deviam ter como prioridade e que se acham o sol num exercício de egocentrismo profundamente perigoso.
E no entanto, rebentou uma nova guerra, com a invasão de um país, tanques a avançarem na capital, e o indizível a acontecer.
Após dois anos de pandemia, e sem que nos possamos dizer recuperados e com força para levantar economias, países e famílias abalados pela covid e suas sequelas, temos uma guerra.
A própria palavra remete-nos para o passado, os livros de história, não a queremos no presente, nem no futuro e no entanto…
No mundo dos tribunais e da justiça é comum ouvir-se antes um mau acordo que uma boa demanda, querendo significar-se que é preferível um acordo, que põe termo ao processo mais cedo, e nos poupa ao desgaste de uma sucessão de sessões de julgamento e por vezes ficamos, tão somente, com uma sentença para emoldurar de impossível execução.
E no entanto, a diplomacia nada alcançou até ao momento!
Aqui e agora temos uma nação independente, a Ucrânia, e o seu povo, as suas gentes, com as suas coisas, a sua arte, as suas tradições, a sua fé, a sua esperança e as suas manias, a ver ser-lhes imposta uma realidade que não querem e verem-se atirados para um tempo do século passado que já viveram e do qual se julgavam libertos.
E no entanto, assistimos a tudo isto em directo, como se fosse um filme!
Alguns de nós farão o acto simbólico de ir para a rua, apoiar uma manifestação pacifica contra os invasores. (penso que será a primeira em que estarei em família)
Lembram-se de 1999? Quando após o referendo em Timor a Indonésia recusou a dar cumprimento à decisão?
Quem não recorda com imenso orgulho, as inúmeras, pacificas e criativas manifestações que se realizaram no nosso pais.
Lembro-me do cordão humano no Marquês de Pombal, vestidos de roupa clara, as velas à janela…
E no entanto, tudo se esquece, tudo fica para trás.
Pobre Ucrânia, pobre povo ucraniano.
Teremos mais um êxodo de refugiados, enquanto os senhores da guerra se banqueteiam nos seus palacetes e brindam aos seus feitos.
Pobre humanidade entregue a estes tiranetes e loucos cheios de armas, sem princípios e que ignoram o que seja direitos humanos e respeito pelo outro.
E no entanto, sempre há quem os defenda.
Saúde e paz!