Das Notícias e do Direito
Adeus
4 de novembro de 2024
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Podia falar do S. Martinho.
Ou de aproveitar a Black Friday e comprar os presentes de Natal. Apesar de este texto ser posterior ao Dia de Todos Santos, em que passámos a homenagear os nossos mortos, por ser feriado e o Dia de Finados não, é do que vou falar. De quem não está, deixou de estar, e que nos deixa saudades.
Tenho pouca paciência para quem me aponta, de forma um bocadinho tonta, que já fui a muitos funerais.
Bem, quando se tem uma família grande, com Avó e Tios Avós, nascidos no início do século, ou até antes, há alguma inevitabilidade em lidar com a morte e os rituais de despedida.
Não vislumbro que alguém goste, excepção feita às carpideiras, penso que extintas, e aos profissionais do ramo.
Porém, a vida acontece-nos.
E com a vida, as pessoas e o seu decesso.
Gosto de pessoas, de festas, de convívios. De conversar, de estar.
Tive uma família grande.
Tios, eram 20.
Tios Avós, quando nasci, eram 12. Avós 3. Primos direitos 26.
Primos dos meus Pais, nem sei. Mas conheci quase todos e já chorei muitos. Família no Brasil, em Moçambique, em França, em Portugal e na Alemanha.
Com o casamento ganhei toda uma aldeia.
Soma-se a família do coração, os amigos. Acrescem todos quantos nos merecem consideração e respeito. Porque trabalhamos juntos, porque somos vizinhos.
Umas vezes prestamos o nosso respeito a quem parte, outras a quem fica. E assim se faz a vida, com ganhos, perdas e despedidas. O ritual da despedida marca-nos a todos.
O luto tem de ser aceite, cuidado e apoiado. Temos, porventura, de ser ensinados a lidar com o luto, com a perda, com a morte.
O proteccionismo doentio que muitos dão às crianças só as torna vulneráveis e incapazes de lidar com o sofrimento e a perda.
Antigamente as famílias uniam-se. Viviam as perdas juntos e talvez essa unidade e esse exemplo os fortalecesse e mostrasse a naturalidade que é a dor, a saudade.
Honrar os nossos não obriga a comprar flores ou estar a cumprir calendário.
A honra devida faz-se na chama de uma fogueira, no embalo de uma canção, numa onda do mar. Num copo que se ergue, numa frase que se lê, numa memória que nos faz sorrir, num comentário que alguém faz.
No sítio, no momento, na memória que aquela pessoa nos traz.
Porque honrar os nossos é brindar à vida e fazemos da nossa o melhor possível.
Faço por isso.
Quanto às minhas pessoas que já partiram, que descansem em paz.
obrigada