Entrevista a Gonçalo Caroço e António Pombinho
"Avança-se com o que estava pronto ou preparado"
9 de setembro de 2024
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Grande entrevista a Gonçalo Caroço e António Pombinho, Vereador, e Presidente da Freguesia de Loures respetivamente. Ambos eleitos pelas listas da CDU.
Qual o balanço que fazem à gestão socialista de Ricardo Leão e da gestão PS/PSD em Loures?
Gonçalo Caroço (GC): Após estes três anos, já é possível fazer esse balanço. Há aqui duas questões: a primeira é que a gestão do PS de Ricardo Leão, quando venceu a Câmara, tinha muitos projetos em andamento e muitos projetos prontos a iniciar. A segunda questão é que, agora, se está a sentir o que, ao longo de décadas, nunca aconteceu: a entrada da verba do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência). É evidente que isso sempre foi uma forma de alavancar alguns dos projetos necessários para o nosso concelho. Depois, temos uma outra face da moeda: avança-se com projetos que estavam ou a andar ou prontos, como, por exemplo, a questão da Frente Ribeirinha, em que o próprio PS vota contra o empréstimo da Frente Ribeirinha por duas vezes para impedir que a mesma avançasse. E depois, com o projeto em mãos, faz empréstimo com o PSD, sendo esta uma obra marcante do nosso concelho.
Aquilo que sentimos é que estamos a ter alguns recuos importantes, em particular nas áreas da educação e da habitação. Deixámos uma estratégia montada que permitiria, se tivesse sido posta em prática, responder a uma população que tem estado fora das respostas públicas de habitação, em particular a classe média. Todos nós sabemos que, neste momento, as pessoas com melhores condições económicas conseguem manter as suas casas. Existe alguma resposta em termos de arrendamento acessível, mas para o arrendamento apoiado não há resposta. E nós tínhamos essa estratégia montada. Infelizmente, caiu por terra. Já se perderam mais de 600 novos fogos no concelho de Loures devido à ação do atual executivo.
Aumentar as respostas sociais em áreas absolutamente fundamentais, como as creches e os lugares em lares, era uma prioridade. Neste momento, só 15% está concretizado, e vai ser difícil concretizar mais.
É evidente que os projetos existiam, muitos deles avançaram. Infelizmente, infraestruturas novas, que não estivessem já pensadas por nós, há muito poucas. E há algumas áreas, como a educação, a área social e a habitação, onde, de facto, houve retrocessos importantes, que se farão sentir fortemente nos próximos anos.
António Pombinho (AP): Singir-me-ei às questões da Freguesia de Loures, porque é isso que me compete. Este é o mandato de um recuo substancial relativamente à Freguesia de Loures. Deixe-me dar alguns exemplos: o Estádio Municipal estava pronto para avançar em determinadas circunstâncias em que o Grupo Sportivo de Loures continuaria a ter a sua atividade desportiva na cidade. Esse projeto foi abandonado. O Grupo Sportivo de Loures jogou uma época inteira fora daqui, na Morteira. E não aconteceu nada naquele terreno. Isso não pode acontecer. Vemos que foi abandonado o processo do Centro Cultural e, portanto, Loures vai continuar, não sei durante quantos anos, sem ter um espaço para uma atividade cultural qualificada, onde artistas, produtores e outros agentes culturais possam desenvolver a sua atividade.
É relevante também, pois estava previsto, a construção da variante e de um novo edifício para o mercado municipal, onde haveria, no piso superior, uma loja do cidadão, permitindo criar uma centralidade diferente e mais qualificada na cidade. Estes são todos projetos que, tendo caído, levam a que Loures – cidade, freguesia e capital do concelho – tenha regredido e perdido, não sabemos quantos anos. Este é o traço fundamental de oportunidade perdida a que este mandato corresponde.
Uma das acusações feitas de forma recorrente pelo Partido Socialista, em particular pelo Presidente da Câmara, Ricardo Leão, é que havia uma visão conservadora da gestão da CDU de Bernardino Soares. Isto é, em relação a alguns equipamentos, centros de saúde, quartéis, entre outros, a CDU afirmava que eram obras da responsabilidade do governo e, por isso, não aconteciam. Quer comentar?
AP: Esses investimentos são da responsabilidade do governo, da administração central. Isso é um facto, ponto final, parágrafo. A questão é: a administração local, as câmaras municipais, podem ou não fazer alguma coisa relativamente a esta matéria? Podem e fazem. A Câmara Municipal, em mandatos anteriores, esteve disponível para viabilizar um conjunto de investimentos na área da administração central. E continuamos a fazê-lo. Agora, não podemos aceitar uma lógica que é: "o que é preciso é fazer de qualquer maneira". Porque, se o Presidente Ricardo Leão, quando tiver problemas – e tem problemas relativamente à recolha de resíduos, por exemplo – vai pedir ao Ministério do Ambiente para eles fazerem a recolha dos resíduos. É preciso avaliar as reais capacidades administrativas e financeiras.
GC: Isso é uma questão que é desmentida pelos factos. Basta ir às reuniões de câmara e às decisões tomadas nas reuniões de câmara nos últimos mandatos da CDU, e vê-se que isso não é verdade. O Centro de Saúde de Lousa foi totalmente remodelado pela gestão da CDU e foi dado ao Ministério da Saúde. O Centro de Saúde de Santa Iria da Azóia foi objeto de lançamento de concurso e foi dado ao Ministério da Saúde. O Centro de Saúde do Catujal foi por nós lançado e, depois, o PS, ao ganhar as eleições, avançou com a obra. Mas o assunto já estava lançado, era uma questão de dedicação. O Centro de Saúde de Santo Antão do Tojal, deixámos o projeto pronto na ARS para aprovação e para depois avançar, com o protocolo já assinado.
As escolas do segundo e do terceiro ciclo, escolas secundárias... Nós, quando estávamos na câmara, não tínhamos autorização sequer para fazer projetos para essas escolas. Foi só depois da nossa pressão que foi possível, finalmente, o Ministério da Educação dizer: "Sim, senhora, então vamos fazer um protocolo para vocês poderem fazer os projetos". Depois, vem o dinheiro. E nós, evidentemente, aproveitámos essa oportunidade. Isso foi decidido ainda em reunião de câmara, no tempo de Bernardino Soares, da CDU.
Há uma escola que estava já tratada por nós, que foi metida na gaveta: a escola de Camarate, Mário Sá Carneiro. Não está prevista absolutamente nada quando havia dinheiro para isso. Portanto, essa é uma questão que cai pela base. Neste momento, há cerca de 15 dias, surgiu uma informação numa reunião de câmara que indica que há 680 crianças com três e quatro anos que não têm lugar na rede pública. Por quê? Porque não há salas de jardins de infância suficientes. Este mandato, o Partido Socialista, se fizer as obras que estão previstas até ao final, vai abrir quatro novas salas, só quatro novas salas. Isso dá para 100 crianças.
E, a partir do momento em que as nossas prioridades absolutas passam para outro nível, gastando o dinheiro que temos no orçamento noutras competências que não são nossas, fazendo com que outros não tenham que fazer esses investimentos, não há dinheiro para realizar as nossas competências. E, aqui, na área da educação, isso é claríssimo. Vão ser mais oito turmas que estarão em horário duplo, o que, pedagogicamente, é um erro. Mas têm vindo a aumentar. Por quê? Por falta de investimento no primeiro ciclo e nos jardins de infância, que são competências da câmara. A outra face da moeda é que as competências próprias da câmara ficam postas em causa, e isso não pode ser.
Qual a vossa visão sobre o Metropolitano? A sua concretização e a "paternidade" do mesmo?
GC: Nós não queremos ser pais nem mães, mas temos muitas responsabilidades, felizmente, porque fomos nós, em conjunto com a população, que conseguimos tirar o Metropolitano da gaveta através da petição que fizemos e que obrigou o governo a tomar decisões. O metro vai ser concretizado porque a população não iria perdoar se isso não acontecesse. Estamos convictos de que o metro terá de avançar e que vai avançar.
Foi perdido cerca de um ano, em que não se tratou do assunto. E agora, aquilo que nós vemos é que o investimento do Metropolitano é daqueles que está mais posto em causa em termos de PRR. Basta ver as notícias, como temos visto. Vai ser difícil dar a volta a esta questão, mas eu acho que a câmara, o Presidente da câmara e o governo têm de resolvê-la. Da nossa parte, aquilo que a população pode ter certeza é que, da CDU, estaremos sempre do lado da solução para resolver este problema. Faremos o que for necessário para que o metro seja concretizado. Embora haja alguns problemas no terreno, na solução que foi determinada pelo atual executivo, em particular em Odivelas, no Hospital Beatriz Ângelo, em Santo António dos Cavaleiros e no Infantado.
AP: Fazendo zoom para as questões locais, uma questão muito importante é garantir que o metro não vá criar mais constrangimentos na vida da cidade de Loures. Ou seja, as estações do Infantado e a de Loures – que era do Hospital Beatriz Ângelo – têm de ter condições, nomeadamente de estacionamento, que garantam que os carros não ficam espalhados pela cidade. Essa é, para nós, neste momento, a grande preocupação. Sobre o metro em si, é absolutamente fundamental.
Pretendem anunciar aqui o vosso candidato à autarquia para as eleições autárquicas de 2025? Quais são os objetivos definidos pela CDU?
AP: Ainda não estão definidos os nomes. Relativamente à freguesia, não temos ainda decisões da CDU. Estamos a trabalhar. Continuo muito empenhado em criar condições para que a CDU tenha uma candidatura forte, capaz de responder às expectativas das pessoas. E, portanto, continuo completamente disponível para participar nesse trabalho.
GC: Quanto à Câmara, não há nenhuma decisão. Agora estamos numa fase de auscultação da população, tentar ouvir o movimento vivo do nosso concelho, e preparar o programa eleitoral que responda às necessidades das pessoas. Temos ideias, evidentemente, e sabemos o caminho que queremos, mas se não ouvirmos as pessoas, certamente não vamos acertar em tudo e podemos falhar. A fase é agora de escutar, ouvir, preparar, e depois irmos à batalha para ganhar.
Em termos de freguesias, há freguesias muito importantes onde vamos trabalhar muito, porque elas precisam da CDU. Estamos a falar de grandes freguesias, como Santa Iria, São João da Talha e Bobadela, por exemplo, mas também Camarate, Unhos e Apelação, onde temos objetivos muito concretos para trabalhar e ganhar.
Para a Câmara e para a Assembleia Municipal, o objetivo é vencer em 2025.
Como veem o projeto económico do concelho?
GC: Nós sabemos o que aconteceu no Planalto da Caldeira, em Santo António dos Cavaleiros, com a construção de duas grandes empresas criadas para apoio logístico. Isso foi algo tratado ainda pela CDU, no mandato anterior. Esse era, e continua a ser, um aspeto essencial: aproveitar as áreas que permitam o desenvolvimento económico, trazendo empresas para o concelho.
Conseguimos aproveitar mais de 80% dos terrenos do PDM, destinados a áreas económicas, que já estão em uso ou, pelo menos, em vias de utilização.
AP: Gostaria de desmontar um mito: não é verdade que a CDU na Câmara tenha sido inimiga do investimento privado. Não é verdade que a CDU tenha incentivado a logística sozinha. É verdade que está em construção um grande centro logístico do LIDL em Loures, mas ao lado está a ser construída uma unidade importante da SAICA PACK, licenciada pela gestão da CDU. Isso foi possível através da proximidade da Câmara com a administração da empresa, que permitiu encontrar uma localização para o seu investimento. O mesmo aconteceu com novas unidades industriais. Loures tem, sim, atividades logísticas, como o grupo Luís Simões e o investimento do LIDL, mas também tem empresas industriais, como a GelPeixe e a Hovione. Se isso não é indústria, o que é? Portanto, tratemos de coisas sérias: a economia, a criação de riqueza e de emprego. O que queremos é criar condições nos espaços que o Plano Diretor Municipal destina à instalação de empresas, com foco especial no setor industrial e na transformação de produtos do setor primário. Loures tem uma atividade agrícola muito forte.
Qual é a vossa visão para a saúde e para o hospital Beatriz Ângelo? Não terá sido prejudicial o fim da PPP?
AP: Estamos, naturalmente, preocupados com o que se passa no hospital Beatriz Ângelo, assim como em outros hospitais, pela falta de qualidade no serviço.
É fundamental que haja condições e recursos para que o hospital cumpra as suas funções. Quero dizer que é importante haver meios para que o setor médico, de enfermagem e todo o hospital possam responder adequadamente às necessidades da população.
Seja público ou privado, o mais importante é que o hospital tenha os meios necessários. Não acho que o setor privado faria melhor com os recursos limitados que o público tem agora.
Portanto, é uma falsa questão. O importante é criar condições para que o Estado português possa responder às necessidades dos seus cidadãos.
GC: Discutir se o hospital Beatriz Ângelo deve ser privado ou público é uma questão inclinada, porque isso nem está em debate no momento. O que temos de discutir agora é como garantir que o hospital, como serviço público, responda adequadamente à população. Temos de nos focar nisso.
Aliás, temos observado retrocessos, como o encerramento definitivo da urgência de pediatria à noite e aos fins de semana, decisão tomada pelo Partido Socialista no governo.
Devemos nos focar em como fortalecer o serviço público, garantindo que tenha os profissionais necessários para atender à população.
Habitação social: qual a vossa avaliação do projeto socialista em curso? O que mudou?
GC: O discurso é convincente, mas a realidade não corresponde. Quando analisamos as contas da Câmara no ano passado, percebemos que a dívida da habitação continua a aumentar. Ultrapassou pela primeira vez os 15 milhões de euros. Portanto, o programa atual, embora tenha alguns resultados, não está resolvendo o problema, e a dívida continua a crescer.
É necessário ter uma resposta em vários níveis de habitação: social, a custos controlados e para diferentes níveis económicos. Não podemos focar apenas na habitação social e deixar de fora a classe média, que é a que mais precisa.
O PS e o PSD, neste mandato, tiveram a sorte de a CDU ter apresentado uma candidatura à estratégia local de habitação, o que permitiu a reabilitação de vários bairros. Antes não havia financiamento, mas agora há com o PRR.
AP: Partilho da mesma visão. Loures não é das freguesias mais afetadas, mas também temos questões a resolver. O país precisa de uma resposta global às questões da habitação, e essa resposta não tem sido positiva. A curto prazo, isso será um problema muito sério.
Presente e Futuro
AP: Reafirmo os nossos princípios de gestão na freguesia de Loures: proximidade, participação e identidade. Vamos continuar próximos das pessoas, completando o ciclo de visitas e participações em cada aldeia e localidade. Vamos iniciar, em setembro, o terceiro ano do orçamento participativo, com um valor 50% superior ao que existia, passando para 15 mil euros.
Quanto à identidade, a campanha eleitoral de três anos atrás destacou a necessidade de as pessoas se conectarem com a sua terra, recuperando a Feira de Loures. Já realizamos três edições com crescente sucesso.
GC: O concelho de Loures é muito diversificado em vários níveis: religioso, económico e etário. O concelho continua a receber cada vez mais pessoas, e é crucial que estas tenham condições para viver aqui.
Falamos da educação, da saúde, da habitação e do movimento associativo, que oferece respostas à população, especialmente na área do desporto.
Em resumo, queremos que quem está aqui continue e que outros possam vir, com as respostas necessárias para si, para os seus filhos e para os seus pais.