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Opinião
Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

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Loures não tem nada?

7 de maio de 2016
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Ocorre ciclicamente, nalguns meios, a estranhíssima tese segundo a qual “Loures não tem nada”. Por Loures, entenda-se o Concelho e todas e cada uma das suas freguesias.

Em regra, esta ideia – filha da ignorância, prima da maldicência ou irmã da má-fé, é acompanhada de uns complementos mesquinhos, do género: “Aqui não há nada, mas na freguesia ali ao lado há tudo”. Olhadas essas coisas com um mínimo de objectividade, depressa se conclui que estão a léguas da verdade.

De uma coisa estou quase certo, a maioria dos naturais e residentes numa qualquer freguesia do Concelho conhecem bastante mal as restantes freguesias, não conhecem os equipamentos colectivos que têm ao dispôr, o património natural e cultural e ignoram como vivem “os outros”.

E assim, focados apenas numa pequena parcela do mundo, uns são assaltados por dúvidas existenciais, outros convencem-se que o mundo acaba naquele curto horizonte que a sua vista alcança. Por isso, talvez se entenda, em certas circunstâncias, a reivindicar para o espaço “vital” todo um acervo de recursos próprios e exclusivos (que normalmente se diz que os outros já têm). A Igreja, o Estádio, o Pavilhão, a Piscina, a Biblioteca, o Museu, a Escola, a Universidade, o Parque, o Jardim, o Autocarro, o Comboio e sabe-se lá que mais…

Confesso que não sei bem como se pode conferir mundivisão, conhecimento e informação para além do uso dos meios já ao dispôr de todos. Para os que não queiram ouvir, saber ou conhecer será missão quase impossível, mas consigo acreditar que, à maioria, falta uma oportunidade, um impulso, um empurrão, para que se disponha a conhecer o Município e os fregueses vizinhos e, assim, compreender que a gestão dos recursos municipais, aconselham a uma distribuição dos equipamentos colectivos, de forma equilibrada por todo o território – segundo também as possibilidades e oportunidades – mas aos quais todos têm igualmente acesso e direito de usufruto. Não é necessário que tudo esteja à nossa porta, para que possamos sentir como nosso e utilizar como nosso, porque o são de facto.

Ainda assim, diria que poderá justificar-se um programa municipal consistente de “viagens à realidade municipal”, que leve munícipes de Moscavide a Lousa, de Bucelas a Sacavém, de S. João da Talha a Frielas e por aí adiante. Conhecer as paisagens, o património construído, os equipamentos existentes, a gastronomia, o artesanato, pode bem (re)colocar muitos de bem com a sua comunidade mais alargada, conferir-lhes outra perspectiva do que os rodeia e disponibilizar a informação que só o contacto directo com o desconhecido permite apreender.

Conhecer os museus, as bibliotecas, os parques urbanos, os parques desportivos, os locais arqueológicos, as quintas, os rios e tantos locais de interesse podem encerrar o potencial de despertar a auto-estima e o orgulho de viver ou trabalhar no concelho de Loures.

Acredito ser da maior utilidade para os desígnios colectivos que se superem tricas, intrigas e disputas sem sentido (que alguns, perversamente, estimulam por razões pouco edificantes), apostando num percurso de inter-relação, participação, envolvimento, debate e comunhão que, respeitando as diferenças de opinião, a todos aproxime em torno de uma realidade básica: Todos somos Loures e Loures tem (quase) tudo. O que não tem, conseguiremos nós, mas juntos.

Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico

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