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Alexandra Bordalo – Advogada
Alexandra Bordalo
Advogada

Das Notícias e do Direito

O Natal e Reveillon do Nosso Descontentamento

5 de dezembro de 2020
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Chegados a dezembro, a escassos dias do Natal e do Novo Ano, assistimos à chegada do inverno do nosso descontentamento.

Certo é que, habitualmente depois da correria de compras e da overdose de calorias e família, para muitos, faz-se o balanço do ano e contam-se desejos a associar às passas.
Ponderar projetos, arquivar planos, recuperar ideias, infletir rumos, fazer mudanças estratégicas, decidir, assumir e fazer opções, são atos típicos desta época.

Neste ano de 2020, o ano zero da vida humana, mais do que nunca se justifica e aplica.

Enfim, certezas tenho algumas. Não mais nada será como dantes.

O paradigma laboral, o posto de trabalho pessoalizado, a segurança, tudo será diferente.

Os regimes de trabalho misto vingarão por excelência, com dias de trabalho presenciais e outros à distância.

Será ultrapassada a ideia de alguns, de teletrabalho a 100%, em que o vínculo, quase único, à empresa será o recebimento do salário.

Creio que os sistemas mistos serão regra em muitas organizações e aqui muito há a aprender.

Dotando os funcionários/trabalhadores de meios e equipamentos que permitam o trabalho à distância, mas que assegurem a correta separação de vida profissional e vida pessoal.

Aos trabalhadores agradará o tempo poupado nos transportes ou nas filas de trânsito, o desgaste do despertador que, em muitos casos, passará a tocar duas ou mais horas depois. A organização pessoal que lhes permitirá ter tempo para o que ansiavam, seja tempo familiar, pessoal, para estudar, fazer exercício, pôr a leitura em dia, o que for. Alguma poupança, nomeadamente com o custo de refeições tomadas fora.

Muitas organizações deixarão de ter custos tão elevados com os espaços como tinham até agora. Porque se mostra evidente que é possível funcionar, e funcionar bem, sem este custo. Porque se tornam esdrúxulas tamanhas necessidades de espaço, muito se poupa, como se diminuíram os custos com os consumos de água e eletricidade no período do confinamento e no que se lhe seguiu.

Todavia, o modelo legal de tempo de trabalho, remuneração e ajudas de custo carece igualmente de ser repensado.

Em tempo de preparação de orçamentos e planos estratégicos para 2021, têm as organizações de fazer um exercício de adivinhação e construir cenários.

Mais confinamento? Quebra na produção? Perda de Clientes? Avolumar de incobráveis?

Todo um mundo de indefinições se abre.

Há que fazer contas às poupanças, de custos fixos, por exemplo com a manutenção dos trabalhadores à distância e rotatividade do trabalho presencial.

Mas também se impõe ponderar nas compensações, de custos, de penosidade, de disponibilidade, a que muitos ficam sujeitos. Embora tais compensações não se esgotem, apenas e tão só, na componente pecuniária.

Não podem as organizações pretender aumentar e ver crescer a sua credibilidade externa, sem olharem para dentro da sua estrutura.

Pensar que é possível obter resultados, bons resultados, sem equipas e trabalhadores motivados e empenhados, os quais precisam e merecem o evidente reconhecimento prático, ao invés de figurarem apenas como custo aquando da elaboração de orçamentos.
Não há motivação, brio e empenho profissional que não soçobre ante o desprezo e a indiferença das chefias. A responsabilidade profissional merece reconhecimento e só floresce com esse apoio e incentivo, sob pena de o profissional ver diminuída a sua confiança e auto estima com os efeitos nefastos facilmente adivinháveis.

O receio da grande depressão não é justificação. Gestão cuidada e prudente não é sinónimo de gestão avara e mesquinha.

Investir nos colaboradores não é um custo, será sempre uma mais-valia, assim saibam os líderes liderar.

Quanto aos trabalhadores, também têm que lutar pelos direitos e pelos princípios, mas também cumprir a sua parte, dar o seu melhor e esforçar-se.

Não se lastime, aja.

Nestes tempos de incerteza, mas que simultaneamente nos obriga a adaptações e a cenários múltiplos, num ano diferente de todos quantos conhecemos, impõe-se prepararmo-nos para o pior, almejarmos o melhor e criar as condições para o futuro. Todos!

Feliz Natal! Auguri 2021 e cheguem as vacinas, please!

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