Fora do Carreiro
TURISMO, QUE TURISMO?
9 de setembro de 2024
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Nos tempos que correm, a conhecida pressão turística sobre Lisboa, não pode deixar de suscitar a curiosidade dos munícipes vizinhos da Capital – quer parecer-me – para tentar perceber como o seu município está preparado, se organiza e se projecta para partilhar com Lisboa tal afluxo excursionista.
O mais óbvio e imediato é recorrer ao sítio municipal na internet e, de facto, lá se encontra um capítulo turístico que nos diz: “Loures é um destino privilegiado, que alia a beleza da ruralidade saloia com a riqueza gastronómica e vitivinícola da sua tradição. As suas paisagens, fortemente vincadas pela simbiose perfeita entre a natureza e a história, são o palco perfeito para momentos únicos de celebração, com destaque especial para o Festival do Caracol Saloio, o Carnaval Saloio, a comemoração do Dia Mundial do Turismo, que envolve inúmeras iniciativas, e o Festival de Natal. Sinta-se atraído pela tradição saloia.”
Ou seja, aparentemente, Loures não tem nenhuma estratégia para o turismo, nem para potenciar a beleza da ruralidade, a riqueza gastronómica e vitivinícola, o património material e imaterial ou o que quer que seja. Como é evidente não é o Carnaval Saloio em Fevereiro ou o Dia Mundial do Turismo no fim de Setembro ou um tal de “Festival de Natal” que nem sei bem o que é, que vai dinamizar uma atracção turística que tenha relevância, que tenha expressão económica e/ou cultural e que tenha a menor hipótese sequer de canalizar uns “farrapos” da multidão turística de Lisboa para Loures. É impressionante a falta de visão e de ambição que perpassa na política local.
Mas saliente-se ainda algo que confirma em toda a linha a falta de estratégia e objectivos para o turismo, como sublinha a crescente esquizofrenia da gestão política local. Reparemos no estado de impressionante sujidade das nossas ruas e passeios, na presença por todo o lado de móveis, colchões, lavatórios, carcaças de electrodomésticos, etc, no absurdo de painéis publicitários, novos e velhos, altos e baixos, actuais e ultrapassados, com cor e sem cor em caótica acumulação em esquinas, passeios, rotundas, terrenos expectantes e outros locais, na insanidade da sinalização vertical (de trânsito, de direcção e até “turística” que está “esfumada” pelo tempo e/ou a intempérie, torta, torcida, virada, ilegível, incongruente. Deixe-se, por agora, o que é mais complicado: o território pejado de armazéns e camiões, a falta de transportes públicos, a repelente intensificação urbanística, o abandono do espaço público.
Sinta-se atraído pela tradição saloia? Há atracção possível? Nem os de cá querem isto!