Fora do Carreiro
Imagem, Dignidade, Orgulho
5 de outubro de 2018
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O multicontraditório fenómeno das redes sociais tem trazido à tona, um conjunto de problemas existentes na sociedade. Por todo o mundo, evidentemente, mas também em Portugal, que é o que mais interessa aqui destacar.
Revelam-se problemas de expressão e de escrita da língua portuguesa, revelam-se dificuldades de apreensão da realidade, revelam-se insuficiências de educação cívica, emergem frustrações e indignações equívocas. Patenteia-se robusta ignorância histórica. Adoptam-se mentiras e notícias falsas – sem qualquer sentido crítico – como causas de paixão exacerbada.
Atiram-se insultos, impropérios e ameaças a vizinhos, correligionários, colegas de trabalho, a autoridades civis, religiosas e militares e a tudo o que mexa, por boas ou más razões, participa-se em barganhas verbais sem sentido nem propósito.
Tudo sinais de uma preocupante impreparação para a vida social, para a partilha com o “outro”, para o debate franco e aberto de legítimas perspectivas diferentes, de perda de referências, de autocentramento, de isolamento.
Um dos traços que mais impressiona é uma baixíssima auto-estima mascarada, daquela arrogância deplorável das certezas sem fim. Já quase ninguém tem dúvidas, já quase ninguém interroga ou se questiona. Apenas se têm certezas absolutas, filhas da mais evidente ignorância.
Vai-se afirmando – nuns locais mais do que noutros – uma espécie de rebeldia sem causa, onde é a terra de nascimento ou aquela que se escolheu viver, como alvo de todas as angústias e desorientação. Desabafa-se que naquele território tudo acontece de mau, tudo é péssimo. E aplica-se a tudo. Às pessoas, à cidade, aos parques e jardins, ao trânsito, às vias, aos equipamentos e serviços públicos, ao clube da terra, às escolas, ao comércio e por aí afora. Não há – nestas visões apocalípticas - um único aspecto positivo na envolvente das suas vidas.
Temos (a sociedade portuguesa), portanto, um enorme desafio a enfrentar, que é o de trazermos para a vida, para a vida comum e colectiva, todos aqueles que demonstram tão grandes desilusões, tão significativas dificuldades de adaptação social, tão baixa auto-estima. É precisa uma estratégia nacional para a educação integral dos indivíduos.
Mas atrevo-me a suscitar às autoridades locais a importância do seu contributo, crucial num processo de ajustamento urgente e magna importância.
A minha proposta é a de uma aposta na dignificação dos locais, conferindo-lhes uma imagem atractiva e amigável, gerando ou qualificando espaços de referência simbólica, promovendo áreas de encontro e apropriação do território, enfim, estimulando um natural “orgulho” de cada um, no espaço colectivo de todos. O respeito próprio também precisa disso, de uma “imagem” de “terra boa” de “gente boa”.