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Opinião
Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

Agitações

31 de agosto de 2018
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Andam por aí umas tantas agitações, com tentativa de expressão nas redes sociais, mas com epicentro evidente em certos meios políticos. A insistência no tema, a diversificação com comunicados partidários, entrevistas encomendadas e outros ruídos denunciadores em torno do tema, desde logo infundem fundadas suspeitas de que o que está por detrás, nada tem a ver com o que se apresenta na montra.

Falo, claro está, no moderníssimo tema dos “monos”, “monstros” ou “volumosos” – algumas das expressões usadas para designar os materiais, mobiliários, colchões e similares, conforme a latitude e/ou longitude autárquica em que nos encontremos – para os quais, de repente, acordou toda uma parte da classe política local que acabou de descobrir uma realidade que apenas esteve disfarçada pela profunda crise que o país atravessou nos anos da troika.

Não é em Loures que o fenómeno está de volta, é em todo o país. A nossa circunstância profissional que leva a percorrer amiúde toda a Área Metropolitana de Lisboa, bem como muitas outras zonas do país, permitem afirmar categoricamente que é um problema generalizado. Portanto, o problema não é Loures, o problema não são os SIMAR, o problema é de fiscalização, organizativo e cívico.

A observação e a experiência de trabalho no sector dos resíduos indicam-nos três origens principais para os montes e montureiras e que pululam em terrenos expectantes, bermas das estradas e em torno dos contentores e eco-pontos:

  • Resíduos de todo o tipo resultantes de obras particulares que são abandonados por pequenos empreiteiros;
  • Mobiliário, colchões, resíduos verdes de podas e domésticos secos, por conduta pouco cívica dos cidadãos;
  • Resíduos sólidos urbanos, ensacados e não ensacados que os munícipes abandonam deliberadamente nesses locais, por manifesta falta de respeito por si e pelos demais concidadãos.

 

Obstar ao abandono do primeiro tipo de resíduos carece de fiscalização. Façam-se umas operações stop às horas pertinentes quando as viaturas vêm das obras noutros concelhos, principalmente de Lisboa e exijam-se as Guias de Acompanhamento de Resíduos.

No segundo e terceiro tipo de resíduos são necessárias respostas organizativas mais eficientes. Disponibilizar locais para deposição voluntária dos monos (gratuita ou não é outra questão); uma recolha municipal organizada e fortemente comunicada e uma sanção social de todos os outros cidadãos que repudiem, advirtam e intervenham junto dos prevaricadores. É mais cómodo alinhar numa reclamação difusa junto das entidades autárquicas, mas o problema está na conduta cívica e não na autarquia, seja ela qual for.

Por fim, tentar tirar proveito desta situação anómala pela qual se é em grande parte responsável, para usar como arma de arremesso político ou tentar justificar outros propósitos mais obscuros, é algo para o que o cidadão contribuinte tem de estar atento para não comprar gato por lebre, pensando que são os seus interesses a ser defendidos, mas são outros quaisquer.

Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico.

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