Opinião de Ricardo Andrade
O que fica!
6 de novembro de 2022
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Escrevo estas linhas numa altura em que um pouco por todo o país se celebram todos aqueles que já não estão entre nós. Todos aqueles que perdemos. Todos os que deixámos de poder algum dia ver novamente.
Muitos se deslocam até aos cemitérios. Outros acendem uma vela. Bastantes recordam apenas os que já foram sem exteriorizar esse acto.
Para mim este é mais um conjunto de momentos em que recordo com alegria ter tido tanta gente boa na minha vida que, infelizmente, já não posso ter mais junto de mim.
Mas é também um dia em que penso no quanto quero aproveitar cada segundo com os que ainda cá estão. É igualmente um dia em que reflicto se dedico toda a atenção que devia aos que me são queridos. É um dia em que olho não apenas para o passado mas para o presente e para o futuro.
Muitos são os dias em que sinto que a minha vida passa a mil, que o mundo corre demasiado depressa , que não consigo estar lá para todos aqueles que me são queridos.
Sim... não consigo parar o tempo. Sim... tenho a consciência que não tenho o dom da ubiquidade. Sim... já não sofro fortemente de cada vez que não consigo chegar junto dos que me são especiais.
Sei que o que sinto não é distinto do que muitos dos que me lêem sentem. Sei que todos guardamos, à nossa maneira, não apenas os que foram mas também os que ficam. Sempre com a noção da nossa humanidade e das limitações inerentes à nossa condição humana.
É natural que a falta nos faça sentir tristes, que as memorias nos façam sorrir e que a dificuldade de controlar o andar do mundo nos apoquente.
Por tudo isto não podia deixar de agradecer aos que já não estão aqui mas que marcaram o que sou. Não podia deixar de pedir desculpa àqueles a quem falhei. Não podia deixar de assumir aos que ficam que tento sempre não lhes falhar.
Porque a nossa vida é feita de perdas. Porque a nossa existência é feita de angústias. Porque os nosso ontem, hoje e amanhã devem ser vividos com plenitude de coração.
No final do dia ficam as lágrimas mas também os sorrisos. No final da noite fica o barulho mas também o silêncio. E no meio de ambos ficam os nadas que são tudos.