Opinião de Ricardo Andrade
Espero que sim!
1 de setembro de 2023
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Como muitos dos leitores, também eu segui as Jornadas Mundiais da Juventude. Como muitos dos leitores também eu vi a magnífica moldura humana que se deslocou não apenas a Lisboa mas também a Loures para participar num evento único. Como muitos dos leitores fiquei orgulhoso e emocionado por ver o mundo num Concelho muitas vezes esquecido.
Vários foram os aspectos que me tocaram ao longo dos dias em que as JMJ vieram até nós. Diversas foram as dinâmicas que pude acompanhar com a vinda do Papa Francisco a este cantinho à beira-mar plantado.
Ao acompanhar aqueles dias confesso que pensei em imensas coisas e em nada ao mesmo tempo. Admito que, por vezes, me relembrava das polémicas com os palcos, das dissertações acerca da importância ou não do evento, dos debates acerca da justeza ou não do financiamento público para as Jornadas, do papel secundário ou não que Loures teria na realização do evento, enfim... tudo um pouco me invadiu a mente.
Agora que aqueles dias de Agosto terminaram e a espuma dos dias e o “barulho das luzes” já acalmou, é tempo não apenas de fazer balanços mas de perspectivar e analisar o “day after”.
O Papa já veio e foi. A comunicação social já não esmiúça cada aspecto do evento. Os peregrinos já não dão cor ao nosso território. Os Olhos já não estão postos na organização.
Mas como em muitas coisas nas nossas vidas... tudo passa e algo/alguém fica.
Neste caso, ficamos nós e fica toda uma estrutura. Fica o espaço que foi devolvido aos munícipes de Loures e fica a vontade de que ele não seja novamente perdido.
Ficam as promessas de uma nova vida e de um sonho que espero nos liberte mesmo do pesadelo em que vivemos durante décadas com o enorme desperdício a que assistíamos daqueles muitos hectares de frente ribeirinha. Fica a esperança de uma nova relação entre a população do Concelho de Loures e as águas que banham o nosso território.
Mais do que apenas elogiar o enorme trabalho desenvolvido de várias formas pelos lourenses na recepção ao Papa e aos peregrinos importa agora dar nota de que o trabalho maior não acabou... ele apenas começou.
Fora dos holofotes o que faremos nós para não perder o que nos foi devolvido?
Sem o brilho das brancas vestes do santo padre o que faremos nós para merecer a segunda oportunidade de aproveitar um espaço único?
Longe da ribalta de um evento incomparável qual será o nosso papel de garantes daquilo que inúmeras vezes reclamámos como nosso de direito?
Admito que os sinais dados pela Câmara Municipal com o imenso trabalho desenvolvido nos dias seguintes ao evento para o cuidar bem como o futuro acolhimento da Semana Académica de Lisboa no espaço onde se realizaram as JMJ ao cuidado de Loures são bons indicativos.
Penso, no entanto, que não basta. Julgo que não é suficiente.
Precisamos de mais. Necessitamos como “de pão para a boca” que nos demonstrem que aquele espaço vai ser encarado como um verdadeiro cartão de visita do nosso Concelho. Devemos exigir que aqueles terrenos não andem ao “sabor do vento” de futuras administrações do município mas que se tornem mesmo algo de estável no nosso espaço público.
Sim, muitas são as ideias que tenho para o que pode ser o futuro daqueles hectares. Mas mais do que aquilo que penso importa o que pensamos todos e o que pensam aqueles a quem caberá cuidar daquela zona ribeirinha em nome das populações.
Importa sim que nos seja dito e assumido por quem terá que acarinhar a nossa margem.
Releva sim ter a coragem de mostrar a todos que este passo gigantesco na reabilitação urbana daqueles terrenos não foi apenas uma “nota de rodapé” no livro da história daquela zona do nosso território.
Vamos mesmo agarrar a oportunidade?
Espero que sim!