Opinião de Ricardo Andrade
Eleições em Janeiro
5 de fevereiro de 2022
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Entramos em Fevereiro num Portugal que politicamente mudou.
Uma esquerda mais para lá do PS ( CDU e BE ) completamente dizimada e a bater no fundo. Uma esquerda verde ( Livre ) que se assumiu e conseguiu manter-se. Um Partido híbrido (PAN ) que voltou a mínimos quase desaparecendo. Uma direita parlamentarmente órfã de uma das suas maiores referências partidárias (o CDS) e com duas novas forças cheias de vigor ( o Chega e a Iniciativa Liberal ). Um centro onde a sua ala esquerda ( o PS ) arrasou e onde a sua ala direita ( o PSD ) baixou de um já mau resultado nas eleições anteriores.
Estamos agora, politicamente falando, num país profundamente diferente e que poucos poderiam perspectivar há anos atrás.
Em primeiro lugar um PS que arrasou e pintou Portugal de rosa. Em segundo um PSD que teve dezenas de milhares de votos a menos que há dois anos.Na terceira e quarta posições temos hoje duas forças politicas jovens ( Chega e Iniciativa Liberal ), ambas do espectro político da direita que lograram reforçar-se multiplicando a sua representação de forma avassaladora. Na quinta e sexta posições dois Partidos (BE e CDU ) dizimados onde o Bloco manteve apenas algumas das suas maiores figuras e onde a CDU perdeu algumas das suas maiores referências passadas e presentes como António Filipe, João Oliveira ou Bruno Dias. Na sétima posição em termos de votos surge um CDS que perdeu a sua representação tendo agora um duro caminho de volta ao panorama parlamentar daqui a quatro anos. Em oitavo um PAN que não conseguiu segurar um Grupo Parlamentar reduzindo-se a uma deputada manifestamente mais fraca do que da última vez que tinha tido apenas um lugar no Parlamento. Em nono um Livre que conseguiu eleger a sua grande referência procurando agora dar finalmente palco a Rui Tavares que soube aproveitar a visibilidade e que logrou apagar um erro de casting chamado Joacine Katar Moreira.
Como social-democrata não posso ignorar que o resultado não foi bom e que agora é o momento de reflectir.
É o momento de analisar com tranquilidade e frieza e tentar não apenas perceber o que correu mal mas acima de tudo buscar definir o caminho para um futuro no qual o maior Partido da oposição terá, certamente, um papel essencial. Um papel que não pode negar.
É o momento de não cair na tentação de promover uma caça às bruxas mas sim de caminhar com passos firmes e seguros rumo a um percurso de preparação dos próximos anos. Porque não há bons e maus e todos deram, certamente, o melhor que tinham de si. É o momento de parar com as espúrias guerras internas e de tocar a reunir. De o fazer a sério e não apenas de faz de conta e quando se está nos holofotes.
Mais do que nunca é o momento de quebrar com uma tendência autofágica tradicional do PSD quando não está no poder e perceber que todos, nesse grande Partido, são poucos para os desafios que se vão colocar. É necessário, um pouco por todo o país e por todas as estruturas do PSD, trazer de volta aqueles quadros que as máquinas partidárias foram afastando ao longo dos anos mas que nunca viraram as costas ao PSD. É essencial que se aproveitem todos e todas as suas ideias e potenciais para juntos poderem voltar a construir um PSD de vitórias firmes e úteis a um Portugal melhor. É urgente voltar a munir o PSD destas suas forças internas para poder assim voltar a cativar e motivar a chamada sociedade civil a aderir em apoio e em participação ao projecto social-democrata do Partido mais português de Portugal.
Sim, são estes os desafios do PSD e espero bem que os consiga abraçar verdadeiramente e voltar a ser aquela força reformista de que todos vamos precisar. Em especial o motor plural de que a democracia nacional bem precisa.