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Ricardo Andrade – Comissário de Bordo
Ricardo Andrade
Comissário de Bordo

Opinião de Ricardo Andrade

De peito aberto...

4 de agosto de 2024
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Sempre acreditei que somos criaturas de hábitos. Sempre tive para mim que somos seres com uma tendência natural para a habituação. Sempre confiei que a repetição é inerente ao nosso comportamento.
No meu caso reconheço que, com alguma frequência, escolho alguns momentos para fazer algumas reflexões mais profundas sobre tudo o que passou bem como o que poderão ser os tempos vindouros. Não sei muito bem se este é um mecanismo de catarse ou se é apenas uma necessidade de questionar o meu próprio caminho com vista a poder evoluir com alguma segurança pessoal e não sujeito a constantes “saltos de fé”.
O mês de Agosto costuma ser um desses momentos em que me debruço sobre o que foi e sobre aquilo que pode ser. O “meu querido mês de Agosto” acaba por ser não apenas um tempo em que tudo passa a correr mas também a oportunidade de fazer um ponto de situação sobre aquilo que me rodeia.
Depois de largos meses em que as mudanças no mundo foram enormes e em que no nosso Portugal estivemos sujeitos a uma enorme intensidade da vivência política e social preparamo-nos agora para outros tantos dias de em que a nossa vida tem de continuar.
Temos pela frente não apenas a espuma dos dias em que abordamos o minuto a minuto mas também o início de um ciclo em que seremos chamados a estarmos particularmente atentos quanto a inúmeras decisões na nossa vida colectiva.
Olharemos naturalmente para a “novela do orçamento” mas não devemos perder o foco na preparação dos folhetins seguintes no que toca à definição futura do nosso panorama autárquico.
2021 já passou há algum tempo e 2025 está já aí á porta. Metade do mandato autárquico já correu e cabe a cada um de nós ir estando atento para que possamos, em serenidade, fazer as nossas análises sobre o que pretendemos para os anos vindouros. Não apenas sobre quem queremos para nos liderar mas, acima de tudo sobre o que pretendemos que seja a marca do nosso futuro enquanto comunidade.
O conforto de algum afastamento no desempenho de funções que outrora abracei permite-me agora, com maior serenidade, reflectir sobre qual o tipo de postura que pretendo para o xadrez político num novo ciclo. Por isso tenho que deixar claro que defendo não uma política local presa às amarras do passado de forma maniqueísta mas sim uma visão de futuro sustentada pela capacidade de evitar destruir tudo o que foi apenas porque já passou.
Criar pontes e entendimentos superiores a nós mesmos é para mim mais relevante do que cerrar fileiras. Ter o coração aberto é mais importante do que fechar a nossa mente num sono dogmático. Olhar para a floresta e não para a árvore solitária é uma postura mais positiva para a defesa do nosso ecossistema.
Nesta linha de pensamento, acredito igualmente que deve ser cada um de nós a promover esse caminho de demonstrar a quem terá que tomar decisões que não nos alheamos do que é a nossa responsabilidade de lhes transmitir que, mesmo num mundo cada vez mais extremado, pretendemos garantias de serenidade e de buscas pela luta equilibrada por princípios e valores basilares sustentados e não por atitudes efémeras que, no longo prazo, trazem mais custos do que benefícios.
O passado é sempre a base para o futuro mas não deve, na minha opinião, queimar tudo à sua volta. O que foi é altamente relevante mas não deve ser o mais essencial no percurso futuro.
Se não estivermos dispostos a encerrar capítulos jamais conseguiremos virar a página.
Sim...devemos abraçar o futuro de peito aberto demonstrando que somos mais do que as nossas amarras.
Sim...devemos ter a coragem de sermos mais do que nós mesmos.
Sim...devemos ter a força para escolher o nós e não o eu.
Porque só assim poderemos passar das palavras ocas aos actos consequentes.

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