Opinião de João Pedro Domingues
Não acredito em predestinados
3 de março de 2025
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Nunca acreditei na existência de homens providenciais. Não quero acreditar que existem predestinados, enviados por uma qualquer força divina (e não, não falo de Trump, mas dos que creem ser a solução mais adequada para as questões do país). Não valorizo quem surge do anonimato, do desconhecimento total, e, por força de alguma circunstância, se põe como que em bicos de pés para poder alimentar o seu ego.
Claro que falo do Almirante. Falo de alguém que organizou de forma exemplar a logística da vacinação contra a Covid 19. É unânime que foi um processo muito bem planeado e organizado, e o Almirante foi, nesse campo, uma peça fundamental no êxito da operação.
Mas será isso por si só suficiente para poder almejar ser o presidente de todos os portugueses? Porque ser exímio a planear, organizar e coordenar é condição primeira para se ser um bom presidente da república?
E é verdade que também navegou por baixo da placa de gelo polar na Gronelândia. Mas será isso o mais importante?
Tenho um amigo que é fantástico a organizar e gerir os almoços de confraternização e os nossos jogos de futebol, mas não seria por isso que votaria nele para presidir ao condomínio…
Não se conhece, de momento, ao Almirante uma única ideia para o país. Sabe-se agora que gravita, segundo diz, entre o socialismo e a social-democracia, seja lá isso o que for. Sabe-se ainda que defende uma justiça não manipulável, uma administração pública independente, uma economia centrada nas pessoas, uma sociedade inclusiva. Mas não será isso que todos, inclusive os que se candidatam à presidência da república, defendem?
Assume-se como estando fora do qualquer sistema partidário. Mas não são os partidos políticos a principal essência da democracia, como a conhecemos?
Refere que, a qualquer um dos putativos candidatos que serão seus opositores, oriundos de um qualquer partido, poder-se-á sempre pôr em causa a sua isenção. Diz o Almirante que nenhum presidente pode ser verdadeiramente de “todos os portugueses”, se estiver claramente associado a uma fação política.
Esquece a história recente. Esquece que os anteriores presidentes, vindos de forças políticas diversas, foram completamente imparciais e independentes, e isso é facilmente verificável.
Ele, o Almirante, é o único que será imparcial, não influenciável e independente de qualquer lealdade partidária. Enfim, só falta mesmo afirmar que o próximo presidente da república terá de ter mais de 1,80 metro de altura. À cautela, para poder logo limitar a concorrência.
Espero, vivamente, que o Almirante comece a falar sobre os temas que realmente importam aos portugueses, que não se refugie em lugares-comuns e seja objetivo em relação ao que pretende para o seu eventual mandato. Pode ser que nesse momento, em que diz o que pensa sobre o futuro, se consiga perceber a verdadeira dimensão do candidato.
Sei que ainda é cedo, que a eleição só ocorrerá no início do próximo ano, e que muito ainda acontecerá no nosso burgo e muitos candidatos ainda deverão surgir.
Eu não sei ainda em que irei votar. Mas sei, com uma certeza inquestionável, em quem nunca votarei.
Isso é seguro.