Opinião de João Pedro Domingues
Já chega de Chega
3 de outubro de 2020
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Estamos a presenciar, na nossa vida política, momentos de algum populismo, que tentam exacerbar os instintos mais básicos de alguns setores da população. Trump, nos Estados Unidos, Bolsonaro no Brasil, Duterte nas Filipinas e Viktor Orbán na nossa Europa, são alguns desses exemplos.
Aqui, no nosso burgo, André Ventura tem sido o aprendiz de feiticeiro desse mesmo populismo que todos, os que defendem um estado de direito, devem repudiar.
Tudo começou em Loures, nas Autárquicas de 2017. A questão cigana, a aplicação do Rendimento Social de Inserção, a castração química para pedófilos, entre outros mimos, seriam a rampa de lançamento de um projeto político alternativo, de caráter eminentemente pessoal, que entendeu construir.
Ventura, na altura no PSD, com um discurso racista e xenófobo, procurou, e conseguiu, caçar votos dos menos atentos, dos que por algum motivo, justo ou injusto, se consideravam injustiçados, e, em particular, da extrema direita, então ainda muito discreta.
O resultado autárquico obtido permitiu-lhe começar a construir um projeto próprio. Um projeto onde só se conhecia, e só se conhece, um nome.
O Chega promove, como nos lugares de má memória, o culto do líder, aqui personificado por André Ventura. O Chega, por seu intermédio, promove um discurso violento, explorando o medo, o ódio, e apela aos instintos mais básicos e primários das pessoas.
As constantes referências à castração química, à prisão perpétua, aos trabalhos forçados e agora à retirada dos ovários a quem faça um aborto, são ataques violentos à democracia tal como a conhecemos e vivemos num mundo civilizado.
O Chega está representado no Parlamento através do voto popular. A democracia é assim, e é assim que deve permanecer. Ninguém deve ser silenciado por pensar de modo diferente. Não podemos, nem devemos silenciar e ignorar o Chega.
Mas podemos, e devemos, isso sim, penalizá-lo democraticamente sempre que possível.
Como? Não alimentando as questões ditas fraturantes que pretende colocar provocatoriamente na ordem do dia. Não alinhando nas suas querelas sempre populistas, porque isso é dar-lhe o placo que ele tanto procura.
Devemos igualmente, e com muito empenho e convicção, penalizá-lo nas urnas, logo e sempre que possível.
Portugal é, e sempre será no futuro, um país tolerante, incluso, que respeita os direitos humanos e que aceita as diferenças de cada um. Um lugar onde todos têm o seu lugar, independentemente da cor, raça ou religião.
Assim, devemos dizer, já chega de Chega.