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João Pedro Domingues – Professor
João Pedro Domingues
Professor

Opinião de João Pedro Domingues

E será? Nem quero acreditar.

2 de junho de 2024
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É por demais consensual que o Aeroporto Humberto Delgado está no limite da sua capacidade de utilização. Só para se ter uma ideia da grandeza dos números, em 1970 registava 2,2 milhões de passageiros, em 1990 cerca de 5,3 milhões, e em 2023 o Humberto Delgado - ou a Portela como muitos teimam em continuar a chamar - movimentou quase 34 milhões de passageiros.
O crescimento do Turismo tem sido constante nas últimas décadas, e já se atingiram, e até superaram, os números pré pandemia. Felizmente, não se perspetiva que este crescimento de turistas vá reduzir nos próximos anos, dado as extraordinárias condições, a todos os níveis, que o nosso país apresenta.
E todos sabemos que as atuais limitações desta infraestrutura aeroportuária são o grande obstáculo que permitirá acompanhar esse crescimento, tão importante para a economia nacional.
Claro que para tentar minimizar estas limitações, o Governo anterior aprovou uma resolução, obrigando a ANA à realização de obras no Terminal 1, à instalação de mais seis mangas, à melhoria operacional do sistema das pistas e à implementação de um novo sistema de navegação aérea, a ser concretizada pela NAV.
Estas obras implicam a desafetação do aeródromo de Figo Madura do uso militar, e os jatos privados terão de ir para o aeródromo municipal de Cascais.
Agora, ao fim de quase 60 anos, parece haver luz ao fundo da pista. A tão criticada, por alguns setores, Comissão Técnica Independente, apresentou o seu relatório e, finalmente, houve uma decisão.
Optou-se por um único aeroporto e o Governo decidiu pelo Campo de Tiro de Alcochete, entre outras razões, pela não necessidade de efetuar expropriações, por ter uma grande proximidade ao centro de Lisboa e estar perto de vias rodoviárias e ferroviárias.
O custo total deverá rondar os 8 mil milhões de euros, e a primeira pista deverá estar pronta para utilização em 2030. Será mesmo assim?
Conforme já tinha escrito há alguns anos, entendo que o Montijo seria uma melhor opção. A construção de um aeroporto civil na Base Aérea do Montijo era viável para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, por ser a que melhor responde aos requisitos da urgência, da capacidade, e da compatibilidade e acessibilidade, mesmo no contexto atual.
Mas a opção foi Alcochete. E agora, com esta solução, vamos ver como se comportam as Associações Ambientalistas, quando ocorrer o Estudo de Declaração de Impacte Ambiental, para a instalação desta infraestrutura.
Isto porquê? Porque se vão destruir dezenas de milhares de sobreiros, para além deste espaço se situar sobre o maior aquífero de água doce de Portugal - a Baía Tejo/Sado -, que, naturalmente, ficará contaminado.
Apesar de todas estas questões que estarão em discussão nos próximos tempos, existe já uma solução para a localização, algo que há muito tardava a acontecer.
Mas outro problema poderá surgir: a negociação com a VINCI. E será agora que provavelmente melhor se perceberá o monumental erro que foi a assinatura deste contrato de concessão com a referida entidade.
Por fim, uma palavra de surpresa e incredulidade. Então o ministro Pinto Luz, esqueceu-se que parte muito significativa do Aeroporto Humberto Delgado, ou Portela, como se queira, se situa no Município de Loures, e procurou um entendimento somente com o autarca da capital?
Tudo o que se possa passar no desmantelamento, ou não, da infraestrutura da Portela, terá obrigatoriamente de envolver Loures!
Agora é acreditar que dentro de, não sei quantos anos, haverá um novo aeroporto: um Luís de Camões.
Mas será? Nem quero crer.

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