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Primavera, Alive e SBSR, o rescaldo
6 de agosto de 2016
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Passados três dos maiores festi¬vais de música, anualmente rea¬lizados em Portugal, é tempo de balanço e identificação do que, na nossa óptica, foram os momentos altos, destaques e o que há a melhorar ou mudar em cada um destes eventos.
Em primeiro lugar não queremos deixar de assinalar que, pese embora os pedidos de creden¬ciais feitos atempadamente pelo Notícias de Loures no sentido de informar os seus leitores sobre estas importantes manifestações, todos os festivais negaram essa permissão desprezando o tra¬balho de um jornal que sendo local tem uma distribuição física para muitos milhares de leitores e lares, sobretudo na zona da Grande Lisboa. Nota negativa portanto para o entendimento que a promoção de media de cada um destes festivais tem sobra as formas de comunicar.
NOS Primavera Sound
O primeiro destes festivais acon¬teceu no Porto. O NOS Primavera Sound decorreu no excelente Parque da Cidade, ainda durante a primeira metade do mês de Junho com cerca de 80 mil espe¬tadores (total para os 3 dias), apresentando uma medida que triunfou e será para levar a sério em futuros eventos do género, ou seja, a utilização do copo reu¬tilizável mediante o pagamento de uma caução inicial devolvida no final da jornada em qualquer dos pontos de venda de comes e bebes. Resultado, um Parque da Cidade sempre limpo em vez do habitual e horrível cemitério de copos, espécie de lixeira em que muitos destes recintos rapi¬damente se transformam.
Sigur Ros, como sempre, inten¬sos e densos na sua sonori¬dade preenchida com guitarra processada por multi-efeitos e tocada com arco de violino e a voz de falsete islandês a ecoar belas e angelicais melo¬dias, Brian Wilson a desfilar “Pet Sounds” dos Beach Boys e mui¬tos outros hits da banda, dos quais é autor, acompanhado por talentosos instrumentistas que o substituem na maior parte dos temas, apresentaram-se em bom plano. Tal como os france¬ses Air, na sua toada electrónica pop limpa, certinha e bonitinha, nem sempre beneficiados por um volume sonoro demasiadamente baixo para o espaço do palco NOS, em bastantes momentos. PJ Harvey optou por um set de temas que deixou de fora alguns dos mais conhecidos e, talvez por isso, o espectáculo tenha dado a ideia de não passar de morno. Deerhunter foi bom, como bom foi o show das poderosas Savages e o dos Explosion in the Sky, no seu post rock de melo¬dias instrumentais, estes dois últimos a decorrer no segundo palco (palco Super Bock), melhor equilibrado para o espaço em causa. Algiers foram uma das principais surpresas, mesmo com problemas técnicos ao apresen¬tar uma mescla de blues, soul e indie rock enérgico e emocio¬nante, conquistando a audiência ao longo do espectáculo. A área de restauração cresceu, muito, como muito cresceram os gru¬pos de pessoas, sobretudo espa¬nhóis que vão para os concertos conversar aos gritos tornando impossível escutar as bandas.
NOS Alive
Já o NOS Alive em Lisboa, no início do mês de Julho, apos¬tou num cartaz de luxo e peso, naquela que foi a sua 10ª edi¬ção. Radiohead, Arcade Fire, Chemical Brothers, Pixies ou Robert Plant são nomes capazes de garantir por si só o suces¬so de um Festival em qualquer ponto do globo e a resposta veio através da lotação esgotada, que levou diariamente mais de 50 mil pessoas ao recinto melho¬rado, agora com a colocação no chão de uma infinita alcatifa verde. Difícil foi a deslocação no meio daquela multidão e escolher entre tantas propostas que se nos propunham. A quase histeria com os Radiohead teve apenas correspondência quando a banda tocou “Creep”, o tema que nega¬ram durante muitos anos e não tão consonantes foram os muitos momentos em que passearam pela sua fase electrónica expe¬rimentalista, incapaz de aquecer as dezenas de milhares de pes¬soas (muitos espanhóis, ingle¬ses, italianos e franceses), que povoavam o enorme espaço do palco NOS. Também aqui o volu¬me não foi suficiente para cobrir tanta área, tanto vento, tantas pessoas e tanto “fala barato”, que com o seu burburinho se sobre¬punha à música. Tame Impala, Foals e Band of Horses, cansa¬dos cumpriram sem o brilho de outras ocasiões mas, provavel¬mente, assistimos no NOS Alive, aos dois melhores concertos de Festivais de 2016 protagoniza¬dos pelos extraordinários Arcade Fire, numa incrível forma e com um set de músicas escolhidas perfeito e ao soberbo show man Father Jonh Misty, num espec¬táculo pleno de emoção e irre-preensível no palco Heineken.
SBSR
Na semana seguinte o cená¬rio mudou para o Parque das Nações onde decorreu o Super Bock Super Rock. Cartaz diver¬sificado com a aposta no últi¬mo dia para o hip hop e afins. De assinalar a aposta em mui¬tos artistas portugueses com bons resultados, nomeadamen¬te Orelha Negra com actuação em crescendo e a conquistar o público no palco principal Meo Arena. Boa prestação, como sempre, dos National no primeiro dia e bastante mais discretos estiveram os Temper Trap. Os Disclosure puseram muita gente a dançar com a sua electrónica. Já Iggy Pop arrasou com o punk impróprio do, quase, septuage¬nário endiabrado e sempre de tronco nu, capacitado ainda para cantar e gritar como o fazia há 40 anos atrás. Bloc Party, com nova formação, foram compe¬tentes mas não mais que isso. Massive Attack profissionais e com espectáculo grande na dura¬ção e tecnologias utilizadas e, no último dia, um bom regresso dos De La Soul e muita gente rendi¬da a Kendrick Lamar e à vitória da Selecção Nacional no Euro, no fim-de-semana anterior, foram notas de destaque no balanço do SBSR. Zona de restauração ata¬balhoada e palco EDP (o da pala) com problemas persistentes de som são aspectos a rever, num festival que mantém a capacida¬de no limite de 20 mil pessoas.
O balanço destes três festivais é positivo e todos eles revelam capacidade de sobrevivência no futuro, estando já marcadas as datas para o próximo ano.
Venham eles!
Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico