Ninho de Cucos
As paredes (des)equilibradas dos Kings of Leon
5 de novembro de 2016
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Os Kings of Leon são uma banda de Nashville do estado do Tennessee e, talvez por essa localização geográfica, desde cedo catalogados com o “Southern rock”, estilo de blues rock consolidado nessa imensa região do centro sul dos Estados Unidos durante os anos 60.
Formaram-se em 2000 com três irmãos, Caleb (guitarra e voz), Jared (baixo) e Nathan (bateria) e um primo (Matthew), todos eles unidos pelo apelido Followill.
Já muito se escreveu sobre a infância dos manos Followill que, filhos de um padre pregador, passaram a sua infância a viajar com o pai pela América profunda, a acampar junto a velhas igrejas por onde o pai espalhava a palavra, privados de ver tv e ouvir música moderna. Digamos que são ingredientes excelentes para alimentar muitas histórias.
Só em 1997, quando os pais se divorciaram, se deu a mudança para Nashville e, no fundo, o contato com o rock bem como com o estilo de vida que até então lhes havia sido negado.
Aos irmãos, já em Nashville, juntava-se o primo Mattthew e em 2003 é lançado o primeiro trabalho longa duração chamado ”Youth and young manhood”.
Este é um álbum de garage south e country rock sem rasgo de antologia, mas capaz de tornar bem sucedida uma tour norte-americana, que se estende ao Reino Unido ainda em 2003, muito a reboque do tema “Molly’s Chambers” de grande airplay radiofónico.
Em Novembro de 2004 é lançado “A-ha Shake Heartbreak”. O êxito comercial é alcançado, com realce para Inglaterra onde se venderam mais de meio milhão de cópias de um disco que nos remete para o rock dos Lynyrd Skynyrd e Creedence Cleerwater Revival, num tom mais psicadélico e que tem os seus momentos altos nos temas “The Bucket”, “King of the rodeo” e “Slow night”.
“Because of the times”, em 2007, representa uma evolução sonora do trabalho de estúdio efetuado pelos Kings of Leon, que culmina num maior reconhecimento na sua própria terra, algo que até então se verificava apenas no Reino Unido.
No entanto, o estrondo maior da carreira dos Kings of Leon acontece em 2008 com “Only by the night”, o álbum que leva os Kings of Leon da garagem para o estádio, para o primeiro lugar dos tops mundiais e os reclama como cabeças de cartaz dos maiores festivais de música do planeta. Para isso muito contribuem “Use somebody” e “Sex on fire”, mas todo um trabalho que, em termos sónicos, cruza o músculo dos Led Zeppelin com a eloquência de Achtung baby dos U2. Resultado: mais de seis milhões de discos vendidos em todo o mundo.
2010 e 2013 trazem-nos mais dois álbuns dos Kings, a saber “Come around sundown” e “Mechanical bull”, nos quais a banda se tenta soltar de sucessos e impactos tão marcantes de carreira como os de “Only by the night”.
Ao sétimo trabalho de originais intitulado “Walls”, editado no mês passado, os Kings of Leon contrataram o produtor Markus Dravs (de Florence and the Machine e dos Arcade fire) para, de certa forma, os ajudar a definir um rumo ou, pelo menos, a torná-los menos claustrofóbicos em termos sonoros que nos dois ábuns anteriores e sem medo do sucesso comercial.
Esta questão é levada ao extremo pela mãe dos irmãos Followill, Betty Ann, que em jeito de raspanete lhes diz: “You guys need to do this, blah blah blah, I saw Taylor Swift go sign [autographs for fans] for four hours the other night and you guys never do that kind of thing. Why don't you guys go out and sign for four hours? That's why she's the most famous woman in the world”.
“Uma vez no mainstream, para sempre no mainstream” não é afirmação de veracidade inquestionável, mas não há que ter receios do êxito quando ele é resultado da honestidade quer individual quer do coletivo.
Na verdade, o produtor Markus Dravs e o teclista Lian O’Neill, que neste disco participa em termos mais efetivos, dão cor e uma mãozinha para que o equilíbrio entre a banda apaixonada de garagem dos primórdios e a outra versão bombástica dos estádios e dos tops se encontre.
O resultado não é homogéneo e sinceramente nem sempre o objetivo é atingido, por isso é talvez um álbum desequilibrado mas com bons momentos.
Há alguma artificialidade em temas onde os Kings of Leon soam a Killers e isso não lhes fica bem (apesar do potencial radiofónico de “Reverend”). Já “Walls”, o tema título, remete para Bruce Springsteen e é uma balada bonita que assenta que nem luva na voz de Caleb.
Para as publicações Rolling Stone e sobretudo Pitchfork que atribui a “Walls” pontuação negativa, a crítica implacável refere uma banda que será a última oriunda do rock clássico a ser cabeça de cartaz em grandes festivais, de uma banda que oferece fast food em refrões de “whoa-oooh”, que tem riffs de guitarra já demasiadamente ouvidos, que quer ser um misto de Strokes e U2, enfim um infinito rol de desgraças que já lemos de outros críticos musicais que existem em qualquer parte do mundo e que escrevem ao sabor de um qualquer vento.
As paredes dos Kings of Leon ainda que não equilibradas têm base, mais que suficiente, para se manterem de pé!