P'la caneta afora
Vamos ao 2?
8 de maio de 2018
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- He pá! Vamos ao 2?
- Não posso, pá! A minha mãe anda sempre em cima de mim!
(…)
- Então vamos beber umas imperiais?
- Não dá. Já gastei a semanada que a minha mãe me deu.
(…)
- Essas calças são fixes. Onde é que as compraste?
- São??? Não fui eu que comprei. Foi a minha mãe. Comprou-as nos Porfírios.
Eram assim as conversas entre os putos do meu tempo.
A nossa mãe estava sempre presente.
Hoje já não tenho a minha mãe em cima de mim, nem ao meu lado de braço dado comigo, quando íamos a caminho da Pastelaria Suíça ou da Bénard, comer um bábá ou um duchaise e beber ¼ de leite Vigor.
Hoje já não tenho a minha mãe atrás da porta de casa, onde depois de eu abrir a porta com um cuidadoso silêncio, me dizia: “achas que isto são horas de chegar a casa, meu menino?”.
Hoje a minha mãe já não entra imediata e rapidamente na casa de banho depois de eu sair e já não me repete: “estiveste a fumar na casa de banho, não foi?”.
Hoje já não vejo os pratos das refeições com mioleira ou iscas e já não oiço a voz da minha mãe a dizer-me: “tens de comer, filho! Mioleira e iscas fazem muito bem! Ajudam-te a crescer!”. E era verdade. Hoje tenho qualquer coisa como 186 cm de altura. Mas também é verdade que ainda hoje não consigo comer nem iscas e muito menos mioleira!
Houve tempos em que o Dia da Mãe era comemorado a 8 de Dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, se não estou erro. Hoje, vá-se lá saber porquê, comemora-se no primeiro Domingo do mês de Maio.
As mães eram especialistas em educação. Eram pedagogas. Eram domésticas. E trabalhavam em casa. E fora de casa.
Hoje e no seu Dia, as mães estão nos escaparates das lojas de “recuerdos” e das papelarias. Ora em luzes led, ora em canecas ou porta-chaves.
Em tempos os catraios escreviam na escola: redacções sobre as mães; e faziam pequenas cartolinas evocativas, onde faziam desenhos a lápis de côr e por detrás escreviam: “És a melhor mãe do mundo” ou “Amo-te muito mamã!”.
Ou apenas:
"Com três letrinhas apenas
Se escreve a Palavra Mãe
É das palavras mais pequenas
A maior que o Mundo tem"
Hoje não tenho a minha mãe ao meu lado, nem em cima de mim!
Hoje mãe... guardo-te dentro de mim... no meu colinho interior!
Estás no meu “quentinho”.
Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico.