P'la caneta afora
HOJE NÃO ME APETECE...
2 de maio de 2021
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Hoje não me apetece!
Hoje não me apetece pandemias, nem números de mortos, nem percentagens, nem vacinas, nem ver covas cavadas à pressa para enterrar mortos também à pressa.
Hoje, no quadragésimo sétimo aniversário do 25 de Abril, escrevo-vos com a televisão em fundo onde passa o filme de Maria de Medeiros sobre o mesmo dia de 1974 e mais perto dos meus ouvidos a voz de Zeca Medeiros a apresentar-me o seu novo trabalho, “A Dúvida Soberana”.
Hoje tenho a Liberdade nos meus braços!
Hoje tenho o privilégio de me sentir honrado por ainda ter memória e esta não ser curta.
Hoje tenho o privilégio de saber e sentir o quão importante a Amizade, a Memória, os Amigos e a sua presença, mesmo quando ausentes milhares de quilómetros de distância.
Hoje podia contar-vos como começaram as minhas amizades. Hoje podia falar-vos como tive e tenho a honra de poder ser agradecido pela Amizade mútua entre este que vos escreve e aquele que, mesmo a milhares de milhas marítimas de distância, que me continua a segredar uma Canção de Embalar dos tempos em que eu me dava com um tal Feiticeiro do Vento.
Hoje podia falar-vos de uma tal Madrugada do Tejo depois de sairmos do velho Mosaico em que ele encantava com sons da sua Rosa dos Ventos.
Hoje ainda podia lembrar-vos Ray Bradbury (acho que era ele) numa prova de realização onde alguém tecia as teias de uma vida escrita no basalto, a fazer lembrar a Canção da Tecedeira.
Hoje até vos podia recordar estes dois homens de narizes vermelhos e redondos e rostos pálidos ou mesmo brancos a vaguear na pista vermelha por debaixo de um qualquer chapiteau a lerem em voz alta e em uníssono A Elegia do Palhaço, que mais não é que a nossa história sumária.
Hoje posso e devo dizer-vos que também Eu Que Estou Habituado A Perder Até Aos Matraquilhos, não quero nunca perder esse halo tão único que dá pelo nome de Amizade.
Hoje posso afirmar-vos o quanto é importante conhecer a obra deste meu Amigo: pintor, poeta, actor, encenador, compositor, realizador, argumentista e responsável em grande parte pela construção da estrada das também minhas Cinefilias e Outras Incertezas.
Hoje, com toda a propriedade, posso assegurar-vos que com ele tenho feito a mais bela das viagens de Barco e o Sonho.
Hoje meu querido Amigo posso-te dizer a Cançoneta do Forte Fraquinho e afirmar-te que Eu Gosto Tanto de Ti Que Até me Prejudico.
Viva a Liberdade! Nos teus, nos meus, nos vossos braços!